Opinião

Lula, fale mais!

Tudo melhorou em prazo mais curto do que o previsto, embora com o Executivo emparedado por Banco Central independente

Presidente Lula (PT). Foto: Ricardo Stuckert/PR
Apoie Siga-nos no

“Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar”. Assim, em 1938, cantou Carmen Miranda (1909-1955), sobre choro pungente do compositor baiano Assis Valente (1911-1958), que, de boa índole, alguns versos depois, desfez a ópera-drama e lascou “e o mundo não se acabou”.

Embora a história não aponte quaisquer manifestações assustadas ou mais tarde festivas e aliviadas dos brasileiros, parece que a cantora luso-brasileira se precipitou e saiu por aí, adoidada, “beijando na boca de quem não devia, pegou na mão de quem não conhecia, e dançou um samba em traje de maiô”.

Comoções tais são frequentes na vida dos que habitam esta Federação de Corporações, politicamente, representadas por bancadas distribuídas conforme os interesses republicanos (“pra inglês ver”): bola, bala, de Jesus, tempo de casa, hereditariedade, rural, ou simples confrarias, e assim vai como sempre foi.

Jair Messias Bolsonaro teria sido um bom estudo de caso para Assis Valente. Por mais que tenha tentado acabar com o Brasil, deixou alguns arranhões que em pouco tempo serão curados. Afinal, aproveitou-se do que já é inato entre os brasileiros, apenas reforçando o tom plúmbeo das tintas dispostas em nossa paleta.

Tanto que assim escrevi em fevereiro deste ano, no GGN: “O bolsonarismo, no Brasil, existe há séculos, desde a colonização. Só foi ausente entre os povos originários e será eterno. Está na essência da superestrutura do país. Jair acabou o modelo político bolsonarista não”.

Hoje em dia, por exemplo, há uma discussão ferrenha na economia. Não irei considerar as opiniões dos decadentes neoliberais e seus antiquados modelos fiscalistas e monetários. Na história, as autoridades que as pregaram sempre pensaram antes nos seus bolsos e na volta às suas consultorias do que nos excluídos sociais.

Partamos de como estavam os principais indicativos econômicos no governo anterior e agora. Tudo melhorou em prazo mais curto do que o previsto, embora com o Executivo emparedado por Banco Central independente, desde que agisse a favor da classe financista e contra as políticas sociais e os setores produtivos, aí incluídos comércio e serviços.

Desde o início de 2022, a relação dólar-real se mantinha equilibrada. Até algumas semanas atrás, quando a moeda norte-americana iniciou um movimento de alta por fatores externos (FED e guerras) e especulação interna, como ultimamente escorada pelo neto de Roberto Campos – “vovô, o senhor aumenta a minha mesada? Quero aplicar num fundo novo do Citibank”.

Nesta semana, o dólar explodiu. Ombros escolhidos: os vários pronunciamentos do presidente Lula sobre a economia. Apesar da realidade, ele promoverá uma gastança e não atingirá a meta para o ajuste fiscal, a inflação voltará aos dois dígitos, o Brasil perderá suas gordas reservas. E quando o Galípolo entrar, Maduro deixará a Venezuela para substituir Fernando Haddad.

Deus, pelo amor ao Brasil, devolva-nos a Maria Portuguesa para que ela saia da lata para continuar a nos ensinar o que é Economia Política, como tirei de seus livros e aulas na Unicamp. Abaixo um “tequinho” dela no Brasil de Fato.

Inté! Semana que vem analiso o generoso Plano Safra 2024/25, lançado por Lula na última quarta-feira 3.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

 

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo