Alberto Villas

[email protected]

Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'

Opinião

Minha irmã comprou um telefone fixo!

Eu me desfiz do meu quando cem por cento das ligações eram pra vender alguma coisa

Antigo telefone exposto no New Hampshire Telephone Museum, nos Estados Unidos. Foto: Creative Commons Attribution 2.0 Generic
Apoie Siga-nos no

A notícia chegou logo cedo pelo grupo dos irmãos no zap, o Villas Brothers. Como assim, comprou um telefone fixo, nesses tempos em que ninguém mais tem? Sim, ela comprou, passou o número e disse que o telefone fixo é muito útil a ela.

Achei engraçado, porque minha irmã mais velha é muito moderna. Achei que era pra decoração do AP novo dela, mas não, é pra uso pessoal mesmo.

Hoje, a gente diz telefone fixo, antigamente não, era só telefone. Ainda não havia telefone móvel pra ninguém.

Teve uma época, eu me lembro bem, tínhamos que declarar o telefone no Imposto de Renda. Pra vocês verem como estou velho. Telefone era coisa de rico. Eu tinha um tio, o tio Zezé Siffert, que vivia de comprar e vender telefones. Criou os seis filhos com o negócio.

Quando eu trabalhava no SBT, atravessava todos os dias o Shopping Center Norte e lá tinha uma loja – Banco do Telefone – onde um terminal do lado de fora mostrava o valor do seu no dia, bastava discar o número. O meu valorizava a cada 24 horas. Já estava até pensando em vendê-lo pra comprar a casa própria.

Mas voltando a minha irmã: ela mora em Brasília desde a inauguração da cidade, e agora é a feliz proprietária de um telefone fixo. Onde será que ele foi instalado? Na sala, na mesinha de cabeceira no quarto dela? Será que ele é preto, daqueles antigões, ou branquinho e leve, com o fio comprido que a gente pode ir com ele, puxando, até no banheiro?

Eu me desfiz do fixo quando cem por cento das ligações eram pra vender alguma coisa. O último telefonema que recebi nele foi vendendo vagas num cemitério. Aí achei que era demais…

Juro que qualquer hora ligo pra minha irmã. Quero ver se o sonido é o mesmo, ou diferente, mais puro como o do vinil.

Será que ela vai estar em casa para atender? Vou dar uma de gente velha e perguntar: alô! De onde fala? quem é que está falando? 

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo