Opinião
O engodo da pacificação
Ao propagandear a sua autoanistia, Bolsonaro fala em “pacificar” o País, mas nossa história prova: não existe paz sem Justiça
Uma das melhores designações dadas ao golpe de 1964 figura no título do documentário de Camilo Tavares: O Dia Que Durou 21 Anos. Esse período se inicia com a deposição de um governo legítimo e progressista, liderado por João Goulart, e se encerra – pero no mucho – em 1985, com a eleição do primeiro presidente civil após duas décadas de regime militar.
No crepúsculo desse sombrio hiato de 21 anos, o Brasil caminhava para uma democracia, mas até certo ponto. Exilados voltaram ao País, recebidos com imenso carinho. Os presidentes voltaram a ser eleitos, e não escolhidos por juntas militares. Mas a mudança em curso estava longe de ser progressista. Eleito pelo voto indireto de um colégio eleitoral, Tancredo Neves morreu antes de assumir. O primeiro presidente pós-ditadura foi o vice José Sarney, tão à direita quanto os militares aos quais se alinhou.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.