O sangue como mercadoria

Uma PEC em trâmite no Senado prevê que a iniciativa privada volte a coletar e processar o plasma humano e os hemoderivados

Doação de sangue. Foto: Agência Brasil.

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Em 1984, quando comecei a realizar meus primeiros plantões em pronto-socorro, ainda como estudante de Medicina, deparei-me com uma realidade que me chocou profundamente.

Pacientes eram atendidos na emergência, com quadro de anemia aguda, motivado por sucessivas doações de sangue. Chegavam em situação gravíssima, após doações diárias. Alguns tinham feito várias em um mesmo dia. Eram pessoas pobres, em situação de desespero, que vendiam seu sangue em troca de alguns trocados, um sanduíche e um copo de suco adocicado.

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1 comentário

Cláudio Lemos Silva de Toledo 28 de setembro de 2023 00h52
Absurdo tal retrocesso. Na Constituinte de 1988 nosso Betinho, então hemofílico, foi vitimado, assim com muitos outros, por uma transfusão de sangue então sob controle privado, vindo a contrair aids. Depois de muita luta, capitaneada por Betinho, a Constituição proibiu a comercialização do sangue. E agora o setor privado está de volta querendo transformar o sangue em mercadoria!

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