José Guimarães

Advogado, deputado federal, PT/CE, e líder do governo na Câmara

Opinião

Por uma política monetária a favor da economia, e não contra

O Brasil tem pressa, não pode continuar refém da política monetária predatória do senhor Roberto Campos Neto

Campos Neto quer decidir no lugar de Lula – Imagem: Marcelo Camargo/ABR
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A política monetária do Banco Central conseguiu unanimidade de críticas e oposição de segmentos da indústria, do agronegócio, do comércio, até mesmo do sistema financeiro, por não encontrar respaldo técnico entre renomados economistas e agentes do setor produtivo e financeiro. 

As razões apresentadas pelo presidente Roberto Campos Neto para manutenção da taxa de juros brasileira entre as maiores do mundo estão em desacordo com o índice de inflação. Os índices de inflação, ao longo dos meses, estão abaixo do teto (4,5%) definido pelo Conselho Monetário Nacional. 

O projeto de desenvolvimento sustentável com justiça social do presidente Lula, tão bem recebido nos grandes fóruns internacionais está sendo inviabilizado por interesses, no mínimo escusos. A suspeita de favorecimento ao rentismo paira sobre muitas cabeças e a credibilidade do Banco Central, como instituição autônoma, começa a fazer parte das conversas nas esquinas.

A taxa de juro adotada pelo Banco Central inviabiliza qualquer projeto de recuperação e crescimento da economia. A expansão do crédito, medida fundamental para os investimentos e para a reconstrução do mercado interno de consumo, se tornou inexequível. A indústria e o comércio, setores mais sensíveis da economia, sentem as consequências da política monetária do Banco Central. Outros setores, que também dependem do crédito, não estão suportando a asfixia da economia pela escorchante taxa de juros.

O programa de governo, amplamente debatido pela sociedade durante o período eleitoral e posteriormente aprovado nas urnas, merece ser respeitado. O mandato do presidente Lula, legitimado pelo sufrágio universal, não deve estar sujeito aos caprichos do presidente do Banco Central. A população está sendo privada do acesso ao crédito para produzir e consumir, em face dos proibitivos juros, o que impede de ver realizado o programa de governo escolhido por ela nas urnas. O projeto de Lula visa ao desenvolvimento sustentável com inclusão social e propõe investimentos abrangentes no plano de reconstrução do país.

A autonomia do Banco Central não foi concedida para proteger interesses bancários nem para ser manipulada politicamente Atualmente, o Banco Central não está cumprindo integralmente sua função primordial. Arrastado para o campo político, o BC está isolado, desligado da realidade econômica do país e com sua credibilidade abalada, justamente por estar sendo usado como ponta de lança do projeto derrotado nas urnas.

O presidente do Banco Central sai da sua seara técnica e tem se embrenhado na articulação política, frequentando jantares com possíveis candidatos às eleições presidenciais de 2026. A máscara caiu e a politização da política monetária ficou exposta em praça pública ao sol do meio-dia. 

Diante das restrições ao crescimento econômico impostas pelas elevadas taxas de juros, conclamo todos os setores da economia — especialmente o agronegócio, a indústria e o comércio, que sofrem neste calvário — a unirem-se aos esforços do governo Lula. É essencial que o presidente do Banco Central deixe de lado a política e faça uma política monetária a favor da economia, e não contra. O Brasil tem pressa, não pode continuar refém da política monetária predatória do senhor Roberto Campos Neto. 

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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