Riad Younes
[email protected]Médico, diretor do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e professor da Faculdade de Medicina da USP.
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A justificável empolgação diante do novo medicamento para obesidade carrega consigo o risco da banalização do tratamento da doença
Nas últimas semanas, uma notícia ocupou as capas das revistas mais importantes no mundo e as manchetes da maioria dos jornais: remédios resolvem a epidemia da obesidade. Passadas estas semanas de euforia e marketing intensos, baixou a poeira.
Especialistas e cientistas alertam: não se trata da bala de prata tão sonhada. Conversamos com o doutor Ricardo Cohen, pesquisador e coordenador do Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo, a respeito dessas notícias, das novidades e de seu papel real no combate ao sobrepeso e à obesidade.
Ricardo Cohen: Sim. É fundamental lembrar que a obesidade é uma doença crônica e progressiva e com causas multifatoriais. Além disso, o combate à obesidade resultou em amplos benefícios para a saúde e o bem-estar, e deve ser priorizado na abordagem do tratamento de doenças crônicas relacionadas a ela, como o diabetes tipo 2.
RC: Os grandes avanços nos tratamentos farmacológicos para a obesidade provocaram empolgação justificável, mas também um exagero na mídia, o que gerou uma demanda sem precedentes por esses medicamentos. No entanto, a consequência mais preocupante é a banalização do tratamento da obesidade, propagando uma mentalidade de “bala de prata” para esta doença. Além disso, a obesidade é uma condição heterogênea, embora ainda não disponhamos de ferramentas diagnósticas para diferenciar seus subtipos ou prever a resposta aos tratamentos. É lógico que uma abordagem eficaz para seu tratamento deve ser multifatorial, individualizada e adaptável ao longo do tempo, semelhante à abordagem bem aceita para outras doenças crônicas.
RC: Estamos na esteira de uma grande expansão em remédios eficazes para a obesidade. Ao contrário da empolgação da mídia, os novos medicamentos não vão curar a obesidade nem tornar obsoletas outras abordagens de tratamento, como intervenções no estilo de vida ou cirurgia metabólica. Uma abordagem eficaz para o controle da obesidade a longo prazo envolve individualização, flexibilidade, ações combinadas e terapia crônica, com um programa geral que considere a doença holisticamente, que leve em conta os fatores modificáveis que contribuem para ela e previna e gerencie complicações.
RC: A cirurgia metabólica é um tratamento muito eficaz para ganho sustentado de saúde, perda de peso, controles glicêmico, de pressão e lipídico. Além disso, ela reduz a incidência de eventos cardiovasculares de longo prazo, complicações microvasculares, como da retina e dos rins, e até mesmo certos tipos de câncer. No entanto, a obesidade é uma doença crônica e progressiva, e de 10% a 20% dos pacientes podem recuperar algum peso após a cirurgia, às vezes resultando em recidivas das complicações da obesidade. A combinação de cirurgia com medicamentos parece alcançar excelente controle glicêmico, perda de peso e até mesmo reversão de complicações como a doença renal diabética. Isto não deve ser uma surpresa, visto que a combinação de cirurgia e medicamentos para outras doenças crônicas, como a coronariana, é melhor do que apenas cirurgia ou medicamentos.
RC: Não. Pacientes com formas avançadas de obesidade geralmente apresentam respostas de perda de peso abaixo do ideal após intervenções clínicas ou cirúrgicas. Os especialistas em obesidade estão aprendendo com oncologistas que usam quimioterapia, radioterapia ou imunoterapia de que forma os tratamentos adjuvantes à cirurgia podem melhorar ainda mais os resultados. A combinação de medicamentos e cirurgia pode ser útil para potencializar a perda de peso e o controle metabólico naqueles indivíduos com formas mais graves de obesidade.
Uma doença multifatorial crônica requer também uma abordagem multifatorial a longo prazo, adaptada ao indivíduo e flexível ao longo do tempo. •
Publicado na edição n° 1262 de CartaCapital, em 07 de junho de 2023.
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