Riscos da agropecuária: o governo é um suco não vitaminado de galhofas

Salles autorizou Messias a promover um porrilhão de obras amazônicas. Pudera, se nem sabe quem foi Chico Mendes

Escoamento de soja no Porto de Paranaguá (PR). A lógica capitalista rege a agropecuária no País

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Tá certo que “Das Marés”, ‘vai de rosa ou vai de azul’, machuca e faz doer quando bota a proibir. Confunde, também, o que li em livros e assisti em filmes e aulas na juventude. “Olavus” é um centurião romano que agride para todos os lados. Pouco importa. O desejo é a vitória dos ferozes leões. Não discerne, como velhas em portas de igrejas, empunhando o guarda-chuva para espantar os cães que, preguiçosamente, se espalham nas escadarias. E tem “El Señor Vélez de Bogotá”, que apesar de nos reconhecer canibais quando viajando, adotou nacionalidade brasileira, 22 anos atrás. Não fui informado a quem quer comer.

Haveria muitos mais. O atual governo é um suco não vitaminado de galhofas. Pouco acredito em graves repercussões na institucionalidade do país em suas disputas contra um Legislativo inculto e Judiciário confuso, medroso, subalterno a Moro.

Os males que trará Paulo “Keds” (o ‘posto Ipiranga’ do Messias Jair, apud Paulo Henrique Amorim) todos já conhecíamos: entregar soberania, patrimônios e direitos trabalhistas. Péssimo inglês, economista de quinta linha, tudo o que o rentismo brasileiro precisava para mais destruir nossas atividades produtivas.

Então, onde foi parar o perigo real? Justamente naquilo que sustenta meu trabalho e minha vida. A musa dos agrotóxicos, Tereza ‘Cretina’, e o chanceler “Honesto Sabujo”.

A primeira acaba de liberar, em 42 dias, 57 novos produtos à base de agrotóxicos. Doze deles pesticidas de alta periculosidade, vários já banidos nos EUA e Europa. Fucking delicious, pensou a ANDEF. Sulfoxaflor? Pode! Ele atua diretamente no sistema nervoso dos insetos causando paralisia e morte. Faz o mesmo com polinizadores, como as abelhas, que tantos cientistas apontam sua extinção natural como catástrofe. Metomil? Pode!

“Sabujo”, diplomata por forte e imponente parentesco de seu primeiro casamento, e influente próximo do “pinçador” Olavo de Carvalho, tomou para combate o “marxismo cultural”, ou seja, aquilo que Jorge Benjor praticava com sua Nega Tereza. Daí, partiu para a crítica ao “globalismo”, com toda a razão. Sempre temi por acidente grave, nos circos, vendo aquelas motos girarem dentro dos chamados “Globo da Morte”. Não fui informado sobre alguma relação com as Organizações.


E aí vêm Bannon, Spengler, o PT transposto a ‘Partido Terrorista’. Ótimos e tradicionais diplomatas do Itamaraty Digno passaram a surpreender-se com esse novo protagonismo. O gaúcho de Porto Alegre (desconfiava) me assoprava o velho Brizola lá do céu, é um sem-noção.

Enlouqueceu, talvez por influência de “Das Marés”, quando usou no discurso de posse citações em grego, tupi, latim, português e alusões a Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Renato Russo e Raul Seixas. Erudição jogada a esmo para ser usada como papel higiênico.

De Tereza já era esperado. Como porta-voz dos ruralistas, foi nomeada para descaracterizar a Lei de Agrotóxicos e destruir FUNAI, INCRA e ANVISA. Mesmo assim, insaciáveis, os ruralistas querem mais. Mais subsídios, perdão de dívidas bilionárias, tudo já prometido pelo Messias que veio e não sabemos se vai ficar.

Sabujo troca as bolas: liga-se ao nosso maior concorrente em exportações agropecuárias e se afasta de nossos potenciais clientes internacionais. Já escrevi aqui sobre essa estultice, citando números animadores do antigo deslocamento.

Troco: Rússia manda reduzir o uso de agrotóxicos, caso contrário deixa de comprar soja. No mesmo tema, aumentam nossos contenciosos comerciais e sanitários. Frangos para o Oriente Médio e Ásia.

Ô sojicultor, está sofrendo com a queda na produção por causa da seca? Vão aguardar dar preço ou câmbio mais favorável? A colheita vai mal, os grãos se deformam. Ricardo Salles sugeriu e autorizou Messias a promover um porrilhão de obras em território amazônico. Pudera, se nem sabe quem foi Chico Mendes.

Ah, o que importa isso para a soja, né?

Ih, desculpem-me, olha o Mourão nos espiando!

Inté.

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