Rui Daher: O peso do arroz e feijão na inflação de agosto

Segundo o IBGE, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 0,24% no mês

Foto: Reprodução

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No armazém do seu Manoel, dois baluartes de nossa sobrevivência alimentar disputam primazia. O feijão e o arroz. Pautado, na semana passada, pela minha editora no GGN, lá publiquei implicações econômicas do fato. Com números e estatísticas.

 

Arroz e Feijão, por Rui Daher

 

Não era o que pretendia, uma história contada, recontada e explicada várias vezes. Mas, afinal, na mesmice Covid-19, “bolsoasnices”, violências policiais contra minorias, o tema poderia ter razoável expressão.


Não seria a primeira vez. Só não esperava tanta. O mundo digital e impresso abraçou o assunto. No GGN, o assunto foi massivo, mas não maçante. Esperava e não me frustrei sendo mais um.

Como em CartaCapital trata-se quase de ofício, deixo-os cozinhando ao ponto em que nos ensinaram gerações de antepassados, os temperos a seus momentos e gostos.

Não está bem claro, mas desde o século 14 os muçulmanos, ao comerciar, desconfiaram que produtos escassos poderiam ser vendidos a preços mais caros.

Contam-me assim: “Num tem! Cê qué? Oito mil dinares. Como, quase um tomã por um tapete? É persa, só tenho este. Tá bom, dá lá!

Tudo rolava calmo com a lei da oferta e procura, até chegarem os britânicos. Se formos citar a todos eles, o número supera o de jogadores africanos na League One.

James Steuart (1712-1780) – não confundir com o ator norte-americano, James Stewart, falecido em 1997 -, Adam “Mão Invisível” Smith (1723-1790), John Locke (1632-1704), vários mais, a darem formas sofisticadas a algo tão simples, como um tapete persa ou o arroz e o feijão.

Seus conceito e formulação estão na base de algo que não existe, e se existiu foi por pouco tempo. Certo, filósofo barbudo Karl? A “concorrência perfeita”, nos manuais, supõe mercados onde não haja, participante com poder para definir o preço de produtos homogêneos”.

– Mas colunista pretensioso, arroz e feijão não são assim homogêneos?

– Até sair da fazenda, digamos que sim, ó burros 30%. Depois logística, marcas, tamanho e conquista distributiva, propaganda, regionalização, conveniência entre oportunidades de exportação ou para o mercado interno (substituição de itens de alimentação, o pobre macarrão, por exemplo).

– Não tem jeito?

– A receita é um mais do mesmo secular nos sistemas econômicos capitalistas. Juntem-se aí, eu pedindo licença a Ivan Lessa, podendo escolher entre se roçar nas ostras ou enfurnar um robalo, todos os que culpam os produtores rurais de vilões pelas oscilações nos preços dos alimentos produzidos no Brasil, ou mesmo importados.

Ainda mais que arroz e feijão são mixurucas na ponderação dos índices de inflação de agosto. Segundo o IBGE, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 0,24% em agosto, o mais alto para o mês, desde 2016. Desgraça! O acumulado do ano, absurdos 0,70%, e em 12 meses, alarmantes 2,44%.


Do meu blog no GGN: “Ô gente ingrata. Fico pesaroso por Guedes, tanto esforço e ninguém satisfeito. Os itens que mais pesaram: a gasolina (3,22 % – fiquem em casa!); transportes (0,82% – mesmo conselho); e os reincidentes alimentos e bebidas (0,78%, atores tomate, que nunca terá paz, e os óbvios óleo de US$ soja, US$ carnes, leite e frutas”).

Mas isso poderia ter sido evitado? Por certo! São confrontos estruturais e conjunturais próprios das economias de mercado. Momentos de safra e entressafra para o que governos competentes, obnubilados apenas por arrochos (em quem, Paulo?), constroem estoques reguladores para intervir e ajudar a população consumidora. Não, isso não é ferrar o produtor. O governo compra e banca. Governo que não o faz é duas ou mais vezes criminoso.

É, pelo menos, o que percebo, em barraquinhas de venda direta em estradas, sobretudo quando estaciono o carro entre Sorocaba e Piedade (SP) e encontro três maravilhosas melâncias a 10 reais, cinco abacaxis a 8, e proeminentes e frescas verduras muito baratas.

Pena não caberem no carro. Os 70% ainda não perceberam?

Inté!

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