O desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips no Vale do Javari, extremo oeste do Amazonas, tem as digitais do governo Bolsonaro, notadamente anti-indigenista e antiambientalista. O crime é fruto não só da ausência do Estado na região, mas das iniciativas governamentais em favor dos saqueadores da Amazônia. São incontáveis as declarações do presidente e os projetos em tramitação no Congresso que legitimam a atuação de grileiros, madeireiros, garimpeiros, pescadores e caçadores ilegais, que avançam sobre as Terras Indígenas (TIs). Quando as facções criminosas se deram conta de que essas práticas poderiam ser tão lucrativas quanto o narcotráfico, mas quase sempre ficam impunes, a Amazônia voltou a ser uma terra sem lei, onde os fracos não têm vez. Quem se contrapõe ao código da selva, fica marcado para morrer. Foi assim com Maxciel dos Santos, indigenista morto com um tiro na nunca em 2019, e pode ter sido este também o destino de Pereira e Phillips.
Eles estavam numa expedição para entrevistar indígenas do Vale do Javari – a segunda maior TI do Brasil, com 8,5 milhões de hectares – que iriam compor um livro produzido pelo jornalista sobre a Amazônia. Sumiram na manhã de 5 de junho, durante um trajeto de barco pelo Rio Itaguaí. Carregavam um vasto material que denunciava a atuação de criminosos na região e que seria entregue à Polícia Federal e ao Ministério Público. O indigenista relatou a interlocutores estar de posse de imagens, feitas por um drone, que mostravam a ação de pescadores ilegais de pirarucu e tracajá, uma espécie de tartaruga. Na noite anterior, a dupla e alguns indígenas que os acompanhavam foram ameaçados pelo pescador Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como Pelado e suspeito de envolvimento no desaparecimento da dupla.
O INDIGENISTA RELATOU A INTERLOCUTORES ESTAR DE POSSE DE IMAGENS, FEITAS POR UM DRONE, A EXPOR A PESCA ILEGAL DE PIRARUCU E TRACAJÁ
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