Política

A vitória de Bolsonaro segundo o site que era comandado por Bannon

O Breitbart News, antes chefiado por ex-estrategista de Trump, celebrou a tática do eleito de apontar para o risco de “venezuelização” do Brasil

Bannon deixou o comando do Breitbart News no início deste ano
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Em 2016, Steve Bannon chamava o grupo de comunicação Breitbart News por ele chefiado de uma “plataforma para a direita alternativa”. Nos Estados Unidos, o termo “alt-right” define um grupo difuso de reacionários, que inclui supremacistas, neonazistas, neofascistas, negadores do holocausto e teóricos da conspiração, matizes diversas de uma extrema-direita alinhada à candidatura de Donald Trump naquele ano. 

Bannon deixou o grupo em 2016 após assumir o comando da vitoriosa campanha do Republicano. Só voltaria ao comando do Breitbart após cumprir uma temporada como estrategista de Trump na Casa Branca. No início de 2018, abandonou novamente a chefia do veículo ao publicar um polêmico livro sobre o mandatário norte-americano. Pouco depois, viu-se envolvido no escândalo de roubo de dados do Facebook pela Cambridge Analytica, pilar da “guerra cultural” encampada por Bannon para favorecer o atual presidente dos Estados Unidos  

Recentemente, o ex-estrategista atuou como conselheiro informal da campanha de Bolsonaro, algo assumido por ele próprio em entrevista recente à Folha de S. Paulo. Antes de voltar suas atenções ao Brasil, ele circulou pela Europa, onde manteve contatos com outro político de extrema-direita, o hoje vice-premier italiano Matteo Salvini. 

Enquanto Bannon passou a assessorar candidatos de extrema-direita no mundo, o Breitbart cobriu com grande interesse a campanha de Bolsonaro. O site do grupo de comunicação parecia saber exatamente o que o ex-militar precisava para vencer no Brasil. 

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Em 6 de abril, uma das editoras do Breitbart analisava que a iminente prisão do ex-presidente Lula obrigava os conservadores brasileiros a moldarem Jair Bolsonaro como um candidato sério. A jornalista Frances Martel definia o então pré-candidato como um “fio desencapado” (loose cannon). 

Segundo a editora, Bolsonaro deveria focar sua campanha não em discursos homofóbicos ou na defesa da ditadura, mas no elogio à ordem e aos valores familiares. Acima de tudo, escreveu, era necessário se opor duramente ao socialismo. O fato de o Brasil ser vizinho da Venezuela tornava esse último ponto crucial, segundo a jornalista.  

“O Brasil precisa de um conservador que possa focar nos problemas que interessam e resolvê-los, não de alguém que está disposto a destruir qualquer chance de um debate nacional inteligente com revisionismo histórico e problemas inexistentes como a ‘erotização das crianças”. 

Bolsonaro assimilou a estratégia do antipetismo e do temor da venezuelização sem deixar de lado a defesa da ditadura e a obsessão contra o “kit gay”. Após sua vitória, Martel afirmou que o ex-militar só venceu as eleições por não interromper a denúncia dos erros da esquerda no País.

Segundo a editora, “neste ano, o candidato impediu a esquerda, e a grande mídia, de distraí-lo em seu discurso sobre o desastre que foram os 13 anos de governo do PT.” Além disso, ela acredita que Bolsonaro foi hábil em apontar para o risco de “venezuelização” do Brasil.  

Após a saída de Bannon, o Breitbart tem adotado uma linha mais sóbria, menos identificada com a misoginia e o racismo da “alt-right” ao qual já foi tão associado no passado. O incômodo com algumas declarações de Bolsonaro reflete uma postura mais próxima de uma extrema-direita como a de Marine Le Pen na França, que considera “desagradáveis” algumas das falas do presidente eleito. 

Ao longo da campanha, o Breitbart valorizou também o apego de Bolsonaro aos Estados Unidos. Em matéria de 2 de outubro, escreveu que o então candidato queria “importar a segunda emenda” da Constituição norte-americana, que dá direito aos cidadãos do país de portar uma arma.

Após sua vitória, o site elencou algumas de suas propostas principais: combater o crime e a corrupção, defender o conservadorismo moral e uma economia liberal, expandir os direitos de porte de armas e adotar uma política externa alinhada a Washington.

O site também lembra que, assim como Trump, Bolsonaro mostra preocupação com os investimentos chineses em sua pátria. Também o classifica como um “sionista” que pode transferir a embaixada do Brasil para Jerusalém e fechar a representação diplomática da Palestina no País. 

Isso não significa que o Breitbart esteja cegamente confiante no sucesso de Bolsonaro. Segundo Martel, ele pode ser amado, mas “ainda é um político”, “alguém suscetível ao lobby e à corrupção como qualquer outro”. A editora alerta: se o presidente eleito deixar de combater o socialismo para se voltar a pautas menores como o “kit gay”, não será presidente por muito tempo. 

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