Política

A porta giratória de Henrique Meirelles

Os ganhos milionários da consultoria do ministro da Fazenda provam que a promiscuidade entre o público e o privado continua a ser uma regra

É muito dinheiro mesmo, Meirelles
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O site de notícias BuzzFeed revelou recentemente que Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, recebeu 217 milhões de reais por meio de sua firma de consultoria apenas em 2016. Parte dos valores,  50 milhões de reais, foram embolsados em setembro daquele ano, quando Meirelles já ocupava o cargo.

Não houve alarde. A mídia, salvo exceções, não deu qualquer destaque. A Bolsa de Valores não se alvoroçou e tudo permaneceu como dantes. Impressiona que a porta giratória, pela qual se transita promiscuamente entre o setor privado e o público, seja tratada no Brasil com naturalidade, como uma corrupção consentida.

Meirelles é um profissional da porta giratória. Atuou 28 anos no BankBoston, do qual chegou a ser presidente global entre 1996 e 1999. De operador de um dos grandes agentes do mercado financeiro voltou ao Brasil para presidir o Banco Central no governo Lula. Seu período de oito anos no comando da política monetária foi uma era de ouro para os bancos. Lucros recordes e manutenção da taxa de juros entre as  mais elevadas do planeta, apesar de redução gradual.

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No governo Dilma, foi retirado da equipe econômica, mas permaneceu no governo, à frente da Autoridade Pública Olímpica, até 2014. Voltou então para o setor privado, com sua empresa de consultoria HM&A, esta que recebeu 167 milhões de reais em contas no exterior três meses antes de seu proprietário assumir o Ministério da Fazenda com a consumação do golpe.

Consultoria ou informação privilegiada? Consultoria ou tráfico de influência? Estas são as questões da porta giratória. É pouco verossímil que bancos e outros agentes financeiros tenham pagado cifras milionárias apenas pelos conhecimentos teóricos do ministro. A escola que o formou, formou centenas de outros. A participação anterior no governo e a perspectiva de retorno a um posto de comando no setor público permitem um nível de informação e influência muito mais lucrativa no mercado.

Com a empresa de consultoria de Antonio Palocci foi a mesma coisa, embora com um valor dez vezes menor, o que não a torna mais aceitável. Mas, naquele caso, houve interesse em fazer certo alarde. A porta giratória é antes regra do que exceção.

O atual presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn saiu diretamente da posição de economista-chefe do Itaú. E provavelmente para lá, ou para alguma empresa de consultoria, voltará após sua passagem pelo poder público. Aliás, coincidência ou não, em abril deste ano o Itaú recebeu perdão de uma dívida de 25 bilhões de reais após decisão do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, o famoso Carf.

Enquanto não se estabelecer regras que travem a porta giratória, proibindo o livre trânsito das raposas ao galinheiro, seguiremos a assistir casos suspeitos de promiscuidade entre agentes públicos e seus patrões passados ou futuros.

Em relação a Meirelles, após a revelação das operações milionárias de sua consultoria, inclusive com recebimentos quando estava no governo, o mínimo a se esperar seria sua imediata demissão. Se estivéssemos, claro, em uma situação de normalidade democrática no Brasil.

A porta segue a girar. E nós pagamos a conta.

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