Abolição inconclusa

Após 16 anos, plano nacional para erradicar o trabalho escravo será atualizado

Pós-resgate. “O desafio é levar a pessoa de volta para casa em segurança, com condições que as protejam de aliciadores”, afirma o secretário Bruno Teixeira – Imagem: iStockphoto e Clarice Castro/MDHC

Apoie Siga-nos no

Várias trabalhadoras domésticas resgatadas, por mais velhas que sejam, brincam com bonecas. Isso significa que elas nunca superaram a infância interrompida pelo trabalho escravo”, revela Tatiana Leal Bivar Simonetti, procuradora do Ministério Público do Trabalho. Passados 136 anos da promulgação da Lei Áurea, o Brasil ainda não conseguiu se livrar dessa chaga. Somente no ano passado, 3.240 trabalhadores foram resgatados de condições análogas à escravidão no ­País, número 57% superior ao de 2022. Grande parte das vítimas foi encontrada em grandes fazendas, trabalhando em atividades ligadas à agricultura e à pecuária. Nas cidades, o famigerado “quartinho de empregada” representa uma atualização da senzala colonial.

Em processo de atualização pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) após 16 anos, o Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo vai incluir o trabalho doméstico aviltado entre as práticas de escravidão contemporâneas a serem combatidas com prioridade pelas autoridades. Muitas das vítimas dessa forma de exploração nem sequer são capazes de identificar o regime de servidão a que estão submetidas. Afinal, “são quase da família”, como costumam repetir os empregadores. “Como podem ser consideradas membros da família se são mantidas naquele quartinho escuro nos fundos da casa, sem acesso a escola, sem plano de saúde? Muitas vezes, elas não recebem nem sequer salários. Imagine os outros direitos que lhes são negados”, lamenta Simonetti, vice-coordenadora do grupo de combate ao trabalho escravo e ao tráfico de pessoas do MPT.

Leia essa matéria gratuitamente

Tenha acesso a conteúdos exclusivos, faça parte da newsletter gratuita de CartaCapital, salve suas matérias e artigos favoritos para ler quando quiser e leia esta matéria na integra. Cadastre-se!

Leia também

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.