Adriano Pires na Petrobras: um despreparado a mais no governo

O indicado é especialista em platitudes e senso comum

Foto: Agência Câmara

Apoie Siga-nos no

A indicação de Adriano Pires à presidência da Petrobras não foge à regra da atualidade. Em um governo de medíocres, um despreparado a mais não faz diferença. Por sorte, serão poucos meses no cargo. Sua capacidade de destruição estará limitada pelo tempo, pelas circunstâncias e pelo calendário eleitoral.

Pires ganhou espaço no debate público durante o racionamento de energia produzido pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Na falta de gente séria disposta a defender o indefensável, restou aos tucanos escalar na linha de frente um até então obscuro especialista em energia, assessor do diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo, desprezado pelos pares da academia.

Pires não decepcionou: distorceu as informações, disseminou mentiras e atacou ferozmente os críticos que apontavam as causas reais do apagão – as falhas de gestão, a privatização e a abertura desorganizada do setor, não a falta de chuvas. Tarefa inglória. Apesar da defesa canina do “especialista”, o governo FHC perdeu o debate. O racionamento foi a pá de cal no sonho de 20 anos de poder dos tucanos. Nunca mais o PSDB venceria uma eleição presidencial.

No caso de Pires, deu-se o contrário. Novos horizontes empresariais se abriram. O economista ganhou colunas em jornais e cadeira cativa nos programas televisivos quando era necessário travar uma nova batalha: a remodelação do setor elétrico destruído nos anos anteriores. O passo seguinte foi criar o Centro Brasileiro de Infraestrutura e ganhar a vida a embalar platitudes, senso comum e ideologia como se fossem fatos e ideias. Tudo com a profundidade de um pires (desculpe, não resisti ao trocadilho infame).

Apesar da dedicação à causa, própria e alheia, e das boas relações, Pires nunca ocupou um cargo importante em administrações tucanas ou no governo de Michel Temer. Só Bolsonaro foi capaz de lhe oferecer um posto estratégico. A escolha diz muito sobre quem convidou, mas também sobre o convidado.


Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.