Política

Agentes de segurança pública criticam Bolsonaro e aderem ao #EleNão

Com visão progressista, eles se articulam e se unem ao movimento de repúdio ao candidato, contestando propostas como a liberalização do porte de arma

Grupo Policiais Antifascismo acredita que liberar o porte de armas deixará a população mais vulnerável
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O movimento #Elenão, encabeçado essencialmente por mulheres em oposição ao candidato da extrema-direita à presidência, o militar Jair Bolsonaro (PSL), tem ganhado força com o avançar da campanha junto aos mais diversos segmentos da sociedade.

Homens, LGBTs, cientistas, movimentos sociais urbanos e rurais, professores e estudantes se somam ao movimento inicial, que ganha a adesão também de um segmento onde o militar se sente à vontade: profissionais da segurança pública, em especial os policiais.

Neste sábado 29, uma semana antes da primeira rodada das eleições, a campanha sai das redes para as rua. E em pelo menos quatro estados – São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Norte – os Policiais Antifascistas irão às manifestações.

CartaCapital ouviu profissionais da segurança pública, em especial aqueles que atuam diretamente com criminosos e situações de conflito e custódia, e que se intitulam antifascistas ou progressistas para entender por que eles se opõem as concepções e projetos para a segurança de Bolsonaro.

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O presidente da Associação dos Bombeiros do Rio Grande do Norte, instituição submetida à Polícia Militar, Dalchem Viana do Nascimento Ferreira, julga que as propostas de Bolsonaro para atacar a violência são ruins, sobretudo porque afastam ainda mais a polícia da comunidade.

“As políticas de segurança que deram certo no mundo basearam-se no consentimento e participação da população. Não é com a lógica de guerra e atacando os trabalhadores da periferia em busca do crime que se consegue apoio da população. Não é a toa que da classe média para cima a polícia é ovacionada. É fácil apoiar o que não lhe incomoda.”

Sobre a proposta de autorizar o porte de armas de fogo, colocando fim ao Estatuto do Desarmamento de 2003, Ferreira acredita que a sensação de insegurança das pessoas aumentaria ainda mais com um maior número de armas circulando, “e não haveria arma na cintura que a devolvesse. Qualquer ocorrência de menor complexidade poderia evoluir para uma troca de tiros.”

“Há estudos que mostram que a maioria das armas utilizadas do crime são nacionais, roubadas muitas vezes de operadores de segurança, que tem preparo para lidar com o crime. As pessoas fatalmente seriam alvo de grupos criminosos que teriam em cada esquina uma arma a disposição. É uma irresponsabilidade armar a população e deixá-la enfrentar o crime sozinha”, avalia o bombeiro.

Para Ferreira, que irá a manifestação puxada pelas mulheres em Natal, as propostas de Bolsonaro “parecem mais um relato de um programa policialesco de TV do que propriamente um plano de governo para um País.”

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Marcos Papaleo, agente penitenciário no Ceará por 40 anos, afirma que as proposta do candidato de limitar a progressão de pena e as saídas temporárias dos presídios não ajudam a reinserir os presos na sociedade, além de aumentar a população carcerária, o que, em sua visão, não ajuda a diminuir a violência. O Brasil tem a terceira maior população carcerário do mundo. Em 2017, ultrapassou 700 mil pessoas, segundo os dados do Ministério da Justiça.

“Quem quiser reverter o atual cenários do presídios terá de repensar a política de drogas e também a precarização dos postos de trabalho de modo geral. O tráfico é o que mais encarcera e ele é muito lucrativo”, explica Papaleo.

O agente sustenta que as saídas temporárias dos presos – como em feriados específicos – são fundamentais para que o preso volte a se relacionar com a família e a comunidade, e portanto restabelecer os laços afetivos e voltar ao trabalho, e que restringi-las poderia ser motivo de motim dentro dos presídios. “Seria uma tragédia.”

O delegado Fernando Antônio da Silva Alves, afirma que o candidato promove o que ele chama de “populismo penal”, fazendo propostas que não possuem eficácia comprovada. “Por exemplo, premiar policiais que matam é premiar a ineficiência. Os criminosos tem de ser julgados e responsabilizados. O policial que mata não fez o seu trabalho direito e ainda se colocou em risco. Não posso acreditar que a família de um policial apoia isso. Elas querem seu parentes vivos.”

Sobre as propostas que por consequência tendem a aumentar ainda mais o contingente de presos, Alves diz que os únicos a terem motivos para celebrar é o crime organizado. “As facções se articulam dentro dos presídios. Todo mundo sabe disso. Estaremos fornecendo mais recrutas para o crime organizado. Quem apoia e promove isso ou está de má fé ou não entendeu nada.”

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