‘Aguentar a pressão é P.H.O.D.A’, lamenta Bolsonaro em evento de ‘combate à corrupção’

Em discurso, o ex-capitão tornou a fazer críticas à CPI e, sem citar nominalmente os ministros, atacou a atuação do STF

Foto: Reprodução

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Durante um evento alusivo ao ‘Dia Internacional Contra a Corrupção’, nesta quinta-feira 9, o presidente Jair Bolsonaro (PL) lamentou as dificuldades em ‘aguentar as pressões’ no cargo de presidente. Também criticou o trabalho da CPI da Covid no Senado, que na quarta-feira apresentou um novo pedido de impeachment contra ele, e voltou a atacar a atuação do Supremo Tribunal Federal.

“Aguentar a pressão é P.H.O.D.A [disse, soletrando]. Naquela minha sala, nunca gravei ninguém, nem vou gravar, mas de vez em quando…em especial no primeiro ano de mandato, aconteceram coisas terríveis”, lamentou durante o evento, sem detalhar quais seriam estes episódios ou pedidos que presenciou.

Antes, havia reclamado da dificuldade em governar por não oferecer cargos em troca de aprovação de projetos, citando o levantamento que mostrou a baixa produtividade do seu governo na aprovação de projetos.

Vale ressaltar, no entanto, que o atual governo atravessa um escândalo do orçamento secreto, em que é suspeito de trocar bilhões em emendas secretas em troca de votos no Parlamento. Cabe lembrar ainda, que os principais ministérios do governo foram cedidos recentemente ao Centrão, bem como Bolsonaro abriu mão de se filiar a um partido de direita para se juntar ao PL, uma das principais siglas da ‘velha política’ em Brasília.

“Nunca tivemos um grupo de ministros e secretários no padrão que temos hoje. E alguns querem a volta de quem loteava. Esses dias vi na imprensa, essa imprensa maravilhosa, que Bolsonaro aprovou só 30% dos projetos que mandou pro Congresso, Lula e Dilma aprovaram 90%. Lógico, poxa”, disse aos presentes.

Mais adiante, Bolsonaro passou então a atacar a CPI da Covid no Senado por, supostamente, não ter investigado casos de corrupção e apenas ter ‘atacado’ seu governo. Segundo disse, estaria sendo ‘perseguido injustamente’.


“Muita gente que tá do meu lado sofre. Fico com pena…Ontem recebi mais um oficial de Justiça. Figuras impolutas, como Renan Calheiros, Omar Aziz, Randolfe Rodrigues, juntamente com um jurista [Miguel Reale Jr.], ontem trouxeram mais um processo de impeachment baseado no relatório da CPI. Que relatório é esse? O que eles fizeram ao longo de seis meses? O presidente da CPI disse que ‘não iria apurar desvios’…vá pra ponta da praia, pô”, questionou irritado Bolsonaro.

Depois de criticar a CPI e voltar a defender o ineficaz tratamento precoce, Bolsonaro retomou as críticas recentes ao STF. Sem citar nomes de ministros, afirmou diversas vezes que as decisões estariam ‘extrapolando as quatro linhas da Constituição’. O alvo dos rompantes, desta vez, foram as prisões de parlamentares por, segundo ele, ‘apenas emitirem opinião’. Ele omite, porém, que os presos fizeram ataques antidemocráticos ao STF e ameaças diretas a ministros da Corte.

“Eu não tenho o poder de prender ninguém e não prendi ninguém, principalmente por liberdade de expressão. Isso é um ato antidemocrático. É um ato que dá nojo. É um tapa na cara de quem acusa a mim de que seria ditador na presidência. Duvido que tenha alguém mais atacado do que eu pela mídia, oficial e social”, iniciou os ataques. É importante lembrar que na última semana, uma mulher foi presa a pedido de Bolsonaro após ofendê-lo em Resende, no Rio de Janeiro.

Mais adiante, sem citar quem seriam os parlamentares presos, voltou a tratar do tema:

“Não posso entender um parlamentar ficar preso sete meses. Se errou, jamais a pena seria pra isso. Qual o limite dessas pessoas?”, afirmou. “Doeu no meu coração ver um colega preso? Doeu. Mas o que fazer? Será que queriam que eu tomasse medidas extremadas? Como é que ficaria o Brasil perante o mundo?”, questionou.

As declarações são semelhantes às feitas nesta quarta em entrevista ao jornal Gazeta do Povo, quando criticou a prisão de Roberto Jefferson, presidente do PTB, e de um jornalista, provavelmente se referindo ao bolsonarista Oswaldo Eustáquio. O ex-capitão fez questão de destacar ainda que suas declarações não seriam ‘críticas ou ataques’ à Suprema Corte, mas sim ‘constatações’.

No longo discurso, Bolsonaro ainda criticou a participação de Sergio Moro (Podemos) como ministro no seu governo, que só teria ‘causado intriga’, e pregou contra o passaporte vacinal anunciado por João Doria (PSDB), sem citar, porém, que o seu governo adotou medida semelhante nesta quinta-feira.

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