Pesquisador da Universidade de São Paulo e conselheiro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, o brasileiro Carlos Nobre é um dos mais renomados especialistas em aquecimento global do planeta. De Belém, onde participa da Cúpula da Amazônia, o cientista conversou com o repórter Maurício Thuswohl sobre a importância do encontro entre os presidentes dos países da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, o papel do Brasil no combate às mudanças climáticas e a exígua margem de manobra para o cumprimento das metas do Acordo de Paris.
CartaCapital: Devemos desistir do cumprimento das metas do Acordo de Paris?
Carlos Nobre: Atingir as metas e não deixar a temperatura exceder permanentemente 1,5 grau Celsius é, sem dúvida, muito difícil, mas ainda possível, desde que haja uma redução muito rápida que chegue a 50% até 2030 e depois zere as emissões líquidas de gases estufa antes de 2050. No ano passado, as ondas de calor no continente europeu levaram à morte 61 mil seres humanos e agora, em 2023, observamos novamente recordes de temperatura em partes da Europa, América do Norte e Ásia. Julho foi o mês mais quente da história. É um enorme desafio. Talvez o maior que a humanidade já enfrentou. Os extremos climáticos que explodiram no mundo nos últimos anos, como as ondas de calor que causam mortes, as secas que trazem prejuízo econômico ao setor agrícola, o excesso de chuvas que leva a deslizamentos e inundações, tudo atingiu um nível que nos leva a crer que, mesmo se tivermos sucesso na meta do Acordo de Paris, ainda assim teremos esses eventos extremos com mais frequência. Então, não podemos passar desses limites, mas as emissões continuam altas. Em 2022, houve recorde de emissões e há indicativos de que, no primeiro semestre de 2023, elas continuaram a subir.
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