Análise: o cenário mais provável, hoje, é Bolsonaro continuar a cair

O apoio ao ex-capitão deve cair a 15%. Ainda é suficiente para levá-lo ao segundo turno, escreve Marcos Coimbra, presidente do Vox Populi

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

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A pergunta de 1 milhão de dólares da política brasileira, neste momento, é se Bolsonaro vai continuar a cair. Há outra: até onde? Só os áulicos imaginam que ele retomará o tamanho que teve. Só os doidos acreditam que cresce.

Recentemente voltamos a ter uma informação mais precisa a respeito do que pensa o conjunto da população. Ainda bem. Encerrou-se a fase na qual apenas estavam à disposição pesquisas limitadas e inadequadas a identificar atitudes e comportamentos dos eleitores de escolaridade, informação e renda menores, praticamente inacessíveis através de métodos chamados “remotos”, como as pesquisas feitas por telefone ou na internet. Eles não funcionam satisfatoriamente em sociedades como a brasileira, razão pela qual nunca foram adotados pelos principais institutos do País.

Na pesquisa face a face realizada entre os dias 11 e 12 de maio, o Datafolha mostrou que Bolsonaro tem, atualmente, uma intenção estimulada de voto, no primeiro turno, de apenas 23%. É pouco para um governante em exercício e que disputa a reeleição.

Em junho de 1997, a um ano e meio da eleição seguinte, Fernando Henrique tinha 34% das intenções de voto, quase o dobro de Lula, que estava em segundo lugar com 19%. Em 2005, Lula alcançava 35%, ficando Geraldo Alckmin, depois dele, com 15%. Em março de 2013, Dilma Rousseff atingia 58%, estando Marina Silva, no segundo posto, com 16%. Esses e os demais resultados são de pesquisas do Datafolha.

Os 23% de Bolsonaro são fracos. Só não acendem a luz vermelha porque os concorrentes que vêm a seguir estão em situação ainda pior. Nesta pesquisa do Datafolha, o terceiro colocado obtém apenas 7%, empatado, consideradas as margens de erro, com outros cinco possíveis candidatos. Na frente de todos, como sabemos, está Lula, com 41%, o que permite até pensar em vitória no primeiro turno.


De volta ao capitão. Digamos que recue ao índice que tem no voto espontâneo, que muitos analistas consideram ser o voto daqueles que se definiram. Ficaria com 17%, a uma distância de mira dos integrantes desse pelotão que o segue. Se fossem para um só nome, apenas esses 6% levariam o candidato ao quase empate com Bolsonaro. Seu desempenho ruim na intenção de voto, está claro, tem relação com os resultados ruins em todos os quesitos referentes à avaliação do governo. Seja na performance do governo como um todo, seja em políticas específicas, o capitão é reprovado pela maioria.

Os 23% de Bolsonaro são fracos. Só não acendem a luz vermelha porque os concorrentes que vêm a seguir estão em situação ainda pior

O destaque está no combate à pandemia. No enfrentamento do principal e mais preocupante problema que aflige atualmente a população, apenas 21% dos entrevistados disseram que o capitão faz um “ótimo” ou “bom” trabalho. Do outro lado, 51% responderam que seu desempenho é “ruim” ou “péssimo”. Números muito negativos, mas nem tão piores do que aqueles que seu governo obtém no conjunto da obra: 24% de avaliações positivas e 45% de negativas. Em outras palavras, os brasileiros reprovam a atuação do ex-capitão no todo e na parte mais importante.
Vamos compará-lo outra vez com seus antecessores bem-sucedidos em reeleições: Fernando Henrique, em maio de 1997, tinha 42% de positivo e 18% de negativo, Lula, em junho de 2005, tinha 35% de positivo e 18% de negativo, Dilma, em junho de 2013, tinha 57% de positivo e 9% de negativo, tudo de acordo com o Datafolha.

A avaliação ruim de Bolsonaro, que limita seu potencial eleitoral em patamar baixo, vai se estabilizar ou cair?  O que é mais realista esperar, considerando que a chance de que esses números melhorem de maneira relevante é praticamente nula, dado o buraco em que estão e o pouco tempo que há até a eleição?

Salvo um tiro de canhão no que resta de imagem de honestidade do capitão, seus apoiadores mais firmes devem se manter em torno de 15% do eleitorado, segundo pesquisas feitas desde 2019. Salvo um milagre que faça crescer candidatos de pouca perspectiva (seja pelos níveis de desconhecimento, seja pelo desgaste do excesso de conhecimento), a possibilidade de que algum o ultrapasse existe, mas é pequena.

O cenário mais provável, hoje, é Bolsonaro continuar a cair, chegando perto desses 15%. Suficientes para manter-se à frente dos outros candidatos da direita, mas insuficientes para alcançar Lula.

Se a direita não se organizar para remover Bolsonaro por meio do impeachment, é com ele que, parece, enfrentará Lula e a esquerda em 2022. Vai ficar por anos a fio com o rosto desse cidadão incompetente e malquerido pela população.

Publicado na edição nº 1158 de CartaCapital, em 20 de maio de 2021.

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