Política

Após derrota nas eleições, PT se reúne para debater futuro da sigla

No encontro previsto para 30 de novembro, a legenda tenta organizar a oposição a Bolsonaro enquanto busca se afastar da pecha de hegemonista

Após derrota nas eleições, PT se reúne para debater futuro da sigla
Após derrota nas eleições, PT se reúne para debater futuro da sigla
Gleisi Hoffmann e Emídio de Souza em reunião da Executiva do PT, janeiro de 2018
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Pouco mais de duas semanas da derrota nas eleições presidenciais, a direção do Partido dos Trabalhadores se prepara para uma reunião no próximo dia 30, em que começará a definir o futuro do partido, tanto internamente como externamente, num contexto de novo governo.

Na pauta oficial, será discutido como os parlamentares petistas atuarão na próxima legislatura. A estratégia, segundo lideranças da sigla ouvidas pela CartaCapital, deverá caminhar para o endurecimento da oposição diante de um presidente que ainda não mostrou a que veio. “Não sabemos qual Bolsonaro vai funcionar, se é o Bolsonaro da bravata, o da violência ou o Bolsonaro contido pelo mercado”, afirma Gilberto Carvalho, ex-ministro de Dilma Roussseff.

De acordo com os petistas, é necessário alinhar a ação com os parlamentares que trabalharão no Congresso. Junto com ela, a criação de uma aliança com os partidos de esquerda e progressistas é questão-chave para alcançar os objetivos de ser uma resistência forte..

Petistas consideram fundamental debater as condições para a criação da frente ampla pela democracia com outras legendas e os movimentos sociais. O problema, no entanto, está em afastar a pecha de que o PT é um partido hegemonista – crítica contundente a legenda não apenas feita por políticos, mas também intelectuais e cientistas políticos. 

“Há uma queixa da esquerda que o PT sempre quis só receber apoio e não apoiar, ser hegemônico e ser o dono da bola. Nós queremos fazer tudo que estiver a nosso alcance, devido ao momento e à causa. Queremos fazer todos os gestos possíveis para deixar bem claro que queremos caminhar como iguais”, explica Carvalho.

Sem a reconstrução da imagem do partido, afirmam outros petistas, não será possível o desenvolvimento de uma frente ampla pela democracia. Eles, inclusive, reconhecem que a omissão prejudicou as eleições deste ano e vê a união dos partidos de esquerda fundamental para o êxito. Como fazer isso? Nenhum dos políticos ouvidos soube explicar muito bem.

Renovação do PT 

A reunião também começará a tratar de um tema caro à legenda e a militância do partido: a renovação de sua direção. Para isso, no entanto, no encontro se discutirá o formato da próximo pleito interno, que elegerá o presidente do partido.

Nas últimas eleições o formato era o PED (processo de eleição direta), onde cada militante votava nos eu candidato. A possibilidade que será levantada é que o pleito seja decidido pelos delegados do partido, compostos por diversas correntes políticas internas da legenda. 

Entre os nomes levantados nas conversas com o petistas dois são unânimes: Gleisi Hoffmann e Fernando Haddad. 

A manutenção de Gleisi na presidência é fortemente considerada por uma ala da sigla. Foi ela que recuperou o vínculo do PT com sua militância, o que traz um sentimento de gratidão por parte dos dirigentes. Ela, entretanto, não é vista como um bom perfil para o partido, por ser descrita como dona uma personalidade mais centralizadora em uma legenda em que diz prezar pelo diálogo e o consenso.

Em relação a Haddad, ainda que tenha havido indicativo de recusa, a possibilidade de se apresentar como candidato não está completamente descartado, segundo amigos e lideranças mais próximas do ex-prefeito. Para intelectuais e cientistas políticos, ele representaria uma boa alternativa da renovação que a legenda necessita.

Dentro do partido, porém, há um uníssono discurso de que a presidência do partido não cabe no perfil de Haddad. A tarefa exige gestão da máquina partidária, as burocracias e resoluções de crises internas em todos os cantos do País. 

Haddad também vê para o próximo ano uma outra possibilidade distinta daquela que até agora se apresentou a ele – a presidência do PT e a direção da Fundação Perseu Abramo – , segundo pessoas próximas: a criação de um organização apartidária e que dialogue intensamente. A ideia, no entanto, requer muitos apoiadores e financiadores pouco claros neste momento.

De acordo com interlocutores do prefeito, a Fundação Perseu Abramo não entraria nesse perfil de instituição, uma vez que se trata de um organismo mais partidário e com pouca penetração nos vários setores da sociedade fora a própria militância petista.

Para Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul, “Haddad é a figura que pode condensar uma renovação estratégica do partido”. “Não sei que grande parte da maioria acha que ele não é”, afirma. “Isso demonstra a existência de fundo do partido que é não começar a avaliar de uma maneira responsável qual o futuro do partido que queremos”.

Para o petista, se a reunião não tratar desse tipo de mudança na estrutura da sigla, nenhuma das propostas acima poderão florescer, principalmente o fim do rótulo de hegemonista e a criação da frente democrática tão almejada. 

“O partido tem que constituir lideranças que tenham personalidade própria e que encarem um novo perfil. Isso não significa se desprender do Lula, aliás o Lula será uma base fundamental para um novo dirigente do partido.”

Hoje, Haddad deverá se reunir em Curitiba com Lula antes do depoimento do ex-presidente à Justiça.

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