Política

Após encontro com Gilmar, Temer pede afastamento de Janot

Um dia depois de o ministro chamar o procurador de “desqualificado”, defesa do presidente avança contra Janot

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A dobradinha entre o presidente da República, Michel Temer, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes continua rendendo frutos. O mais novo capítulo na atuação combinada dos dois é o pedido de suspeição do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentado pela defesa de Temer nesta terça-feira 8, no inquérito em que o peemedebista é alvo.

O pedido se dá após uma reunião entre Temer e Gilmar na qual os dois discutiram, segundo relatos da imprensa, formas de contrapor a atuação de Janot.

Em petição assinada pelo advogado Antonio Claudio Mariz de Oliveira, a defesa de Temer afirma ser “público e notório” que a atuação de Janot em casos envolvendo o peemedebista “vem extrapolando em muito os seus limites constitucionais e legais” e diz que Janot se sente “incumbido de uma missão maior” e autoriza o emprego de medidas ilegais.

O pedido da defesa de Temer parecer ser o terceiro ato de um espetáculo. No primeiro, na noite de domingo 6, o presidente e o ministro do STF realizaram reunião fora da agenda na qual discutiram estratégias de defesa contra Janot, segundo a Folha de S.Paulo. No segundo ato, segunda-feira 7, Gilmar Mendes fez um duro ataque público a Janot.

Quanto a Janot, eu o considero o procurador-geral mais desqualificado que já passou pela história da Procuradoria. Porque ele não tem condições, na verdade não tem preparo jurídico nem emocional para dirigir algum órgão dessa importância”, disse o ministro à Rádio Gaúcha. Nesta terça-feira, veio o pedido de suspeição.

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O contexto da ação contra Janot é evidente. O procurador-geral deve apresentar nos próximos dias uma segunda denúncia contra Temer, ou por formação de quadrilha ou por obstrução de justiça. Assim como ocorreu no caso da primeira denúncia, por corrupção, a ação será apresentada ao STF, mas só avança se a Câmara autorizar. A julgar pela votação do último dia 2, quando a Câmara o salvou, Temer tem apoio para evitar a autorização. 

Ocorre que a nova denúncia pode trazer novos elementos, como por exemplo trechos das delações premiadas do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do homem apontado como operador financeiro do grupo de Temer e Cunha, o doleiro Lucio Funaro, que estariam negociando acordos com a Procuradoria-Geral da República.  

Neste contexto, a intenção da defesa de Temer é trazer elementos para evitar que deputados mudem de posição e decidam autorizar um processo. Trata-se de uma ação meramente política. Não há a real esperança de que o STF de fato remova Janot do caso, como contou um ministro de Temer ao blog da jornalista Andreia Sadi, no portal G1. O pedido ao STF poderia servir para “marcar posição” e “expor” Janot, disse o ministro, reforçando a tese de que o PGR “persegue” Temer. 

Janot fica no cargo até 17 de setembro e será substituída por Raquel Dodge, nomeada por Temer. 

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