Política
Áudio de Temer e Joesley não foi editado, indica perícia da PF
Segundo diversos relatos da imprensa, Polícia Federal vê interrupções, mas não adulteração. Resultado é baque para Temer
A estratégia do presidente Michel Temer e de sua defesa de contrapor as denúncias de Joesley Batista, dono da JBS, afirmando que o áudio entre os dois, gravado secretamente pelo empresário, foi adulterado, sofreu um duro baque. Conforme múltiplos relatos de diversos veículos de imprensa, a Polícia Federal concluiu em perícia que há mesmo dezenas de interrupções na gravação, mas que ela não sofreu nenhum tipo de edição.
Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, as interrupções são atribuídas pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC), responsável pela perícia, ao tipo de aparelho usado por Joesley Batista para gravar Temer.
De acordo com a TV Globo, o laudo foi entregue em mãos ao delegado do caso, que foi ao INC para recebê-lo. O parecer será enviado na segunda-feira 26 ao Supremo Tribunal Federal (STF) e anexado ao inquérito, cujo relatório parcial foi entregue pela Polícia Federal ao STF na segunda-feira 19.
O áudio integra a delação da JBS, que compromete Temer diretamente. De acordo com Joesley Batista, do grupo J&F, controlador da companhia, e Ricardo Saud, ex-executivo da empresa, Temer pediu propina à JBS e manobrou para comprar o silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do doleiro Lucio Funaro.
A integridade da gravação Temer-Joesley provocou uma “batalha de peritos” que colocou em oposição a grande imprensa brasileira, conhecida por seu discurso único em diversas frentes. O pano de fundo eram as relações dos órgãos jornalísticos com o governo Temer.
O Jornal Nacional, da Globo, grupo responsável pela divulgação em primeira mão da existência do grampo, recorreu a especialistas que classificam a gravação como “intacta”, mas o jornal Folha de S. Paulo e a defesa de Temer foram atrás de profissionais cujos laudos detectaram edições no arquivo.
A Folha contratou Ricardo Caires dos Santos, que apontou, segundo reportagem da publicação, 50 edições no áudio entregue às autoridades. No ano passado, o mesmo especialista foi contratado para analisar se havia ou não um fantasma em uma foto da atriz norte-americana Jéssica Alba, informação que O Globo fez questão de lembrar para desmerecer o especialista.
Contratado por Temer, Ricardo Molina construiu sua reputação com laudos realizados para as Organizações Globo. O mais famoso está relacionado ao episódio em que José Serra (PSDB), então candidato à presidência em 2010, foi atingido por uma bolinha de papel em uma agenda de campanha.
Em defesa de Temer, Molina alegou que o arquivo de áudio entregue por Joesley à Justiça não tem condições técnicas de ser utilizado em um processo e ainda contestou passagens sobre as quais não pesavam qualquer ambiguidade. De acordo com o perito, Joesley não afirmou “todo mês” a Temer, uma referência, segundo o delator, a pagamentos a Eduardo Cunha para se manter calado na prisão, mas “tô no meio”.
Em coletiva, o perito chegou a assumir o papel de advogado de Temer ao chamar a Procuradoria-Geral da República de “ingênua” e “incompetente” por ter aceitado a gravação contra o peemedebista.
Na sexta-feira 23, o advogado de Temer, Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, tentou minimizar a importância da perícia da PF ao G1. “Posso adiantar que laudo não é uma verdade absoluta. Se existe um laudo dizendo que não houve manipulação, existem outros três dizendo que houve. É uma questão de análise e de julgamento final da autoridade responsável. E essa prova está sendo contestada sob outros aspectos, principalmente sobre a licitude”, disse Mariz.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.