Política
Bolsonarismo usa desinformação sobre benefícios e São Francisco para tentar neutralizar o PT no Nordeste, diz estudo
De olho nas eleições municipais em 2024, expoentes do bolsonarismo passaram a utilizar táticas de fake news para se contrapor ao partido na região
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De olho nas eleições municipais em 2024, expoentes do bolsonarismo passaram a utilizar uma tática para neutralizar a capilaridade histórica do PT no Nordeste e, ao mesmo tempo, se firmarem como lideranças do campo conservador na região: a desinformação com foco em questões sociais.
As conclusões constam de levantamento realizado pelo Núcleo de Integridade da Informação da agência nova/SB, que monitorou a bolha de direita nas redes sociais entre março e maio deste ano.
Segundo o estudo, a investida dos apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) chegou a concentrar mais de 6 mil posts no período mapeado pelo instituto (6.400). Deste total, cerca de 130 são publicações originais e 6.270 compartilhamentos – a maioria das fake news (66%) publicadas tinham como alvos preferenciais os estados da Bahia e Pernambuco.
Entre os assuntos mais recorrentes estão o suposto fechamento das comportas do Rio São Francisco, no Rio Grande do Norte, a demissão em massa de 109 mil pessoas após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e um possível cancelamento do Bolsa Família para mais de 1,5 milhão de nordestinos.
As narrativas adotadas pelos bolsonaristas, diz a pesquisa, possuíam muita aproximação com questões caras à população, como o aumento no preço dos combustíveis e o corte de benefícios sociais:
- Narrativa ‘Rio São Francisco’: 73 mil menções ao tema e cerca de 120,5 milhões de usuários alcançados.
- Narrativa ‘Demissões em massa após posse de Lula’: 2,5 mil menções e cerca de 10,7 milhões de usuários alcançados.
- Narrativa ‘Cortes no Bolsa Família’: mais de 6 mil menções e 15,4 milhões de usuários alcançados.
Os emissores da desinformação concentram 91% das postagens originais analisadas na rede, o que demonstra uma maior dependência de perfis responsáveis por direcionar a narrativa dos demais expoentes do bolsonarismo. Para ilustrar: é como um enxame de abelhas em torno da colmeia.
“Por funcionarem como articuladores das narrativas e conectores com outros clusters [computadores], a predominância de Hubs [concentradores de dados] no grafo sugere uma rede que, embora conectada de ponta a ponta, se articula em torno de poucos emissores”, diz o relatório. “É reflexo disso o fato de apenas 6 perfis dentre os 5.757 da rede serem mencionados ou retuítados mais de 500 vezes“.
Mais da metade das publicações falsas ocorreu em torno de dois perfis: @JoaquinTeixeira, que acumula 40% das interações, e @ATROMBETA3, que responde por 15%. Ambos somam mais de 600 mil seguidores apenas no Twitter, rede social que concentra a maioria das fake news foram divulgadas. As postagens geralmente carregam as mesmas características: informações truncadas que sempre apelam ao sensacionalismo.
Para Marcus Di Flora, analista-chefe do Núcleo de Integridade da Informação da nova/SB, o Nordeste é uma porta de entrada para quem mira as eleições municipais e utiliza as informações falsas para se colocar como oposição ao governo Lula. “Há um espaço para se trabalhar essa política utilizando-se esses recursos violentos e antidemocráticos como as fake news. Isso exige do Poder Público, das forças progressistas, que defendem a Constituição e a democracia no Brasil, uma atenção redobrada a esse tema”, explica.
Segundo o pesquisador, o modus operandi dos expoentes da desinformação é “criar um ambiente de perigo iminente” com o objetivo de minar a popularidade de determinadas figuras políticas.
“Quando ocorreram os ataques a uma creche em Blumenau [em Santa Catarina] e na Grande São Paulo, isso foi muito utilizado pelas redes bolsonaristas para criar a ideia de uma suposta leniência do governo federal no combate à violência e uma fragilidade na segurança pública”, acrescenta.
O Núcleo de Integridade da Informação da nova/SB fez o levantamento através do acompanhamento sistemático das redes sociais e com base na coleta de posts do Twitter, Facebook, Youtube e Instagram. A coleta de menções foi realizada diariamente e limitada a cerca de 119 mil posts por dia.
O estudo possui 95% de confiança e 5% de margem de erro. Cerca de 1.050 menções foram manualmente analisadas por dia entre os dias 15 de março e 22 de maio. O alcance é estimado dos posts com base no número de seguidores dos publicadores dos posts.
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