Bolsonaro usa G20 para criticar vacinação obrigatória e protestos contra racismo no Brasil

Presidente disse que há tentativas de importar para o Brasil tensões raciais alheias à nossa história

Bolsonaro usa G20 para criticar vacinação obrigatória e protestos contra racismo no Brasil. Foto: Marcos Corrêa/PR.

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O presidente Jair Bolsonaro voltou a se manifestar neste sábado 21 contra a obrigatoriedade da vacinação contra a Covid-19. Desta vez, diante dos 20 líderes das maiores economias do mundo que participam da cúpula do G20 organizada pela Arábia Saudita.

 

 

No Brasil, o assunto foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF). Embora sejam favoráveis à vacina obrigatória reservadamente, os ministros da Corte não devem julgar o assunto este ano, pois querem debater o tema com a comunidade científica antes de se posicionar.

Bolsonaro também defendeu durante a cúpula uma ação coordenada em resposta à pandemia e o acesso universal, equitativo e a preços acessíveis dos tratamentos disponíveis contra a Covid-19.


“É com esse objetivo que participamos de diferentes iniciativas voltadas ao combate à doença. No entanto, é preciso ressaltar que também defendemos a liberdade de cada indivíduo para decidir se deve ou não tomar a vacina. A pandemia não pode servir de justificativa para ataques às liberdades individuais”, disse.

Para surpresa geral, o presidente brasileiro fez alusão aos protestos antirracistas no Brasil, após a morte do soldador negro João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, espancado na sexta-feira (20) numa loja do Carrefour em Porto Alegre. Ele não falou abertamente sobre o caso, mas criticou os manifestantes que foram às ruas denunciar o racismo enraizado no país. No início de seu discurso, Bolsonaro disse que “há tentativas de importar” para o Brasil “tensões” raciais “alheias à nossa história”. Mas que ele, como “homem e como presidente”, enxerga a “todos com as mesmas cores: verde e amarelo!”.

Bolsonaro afirmou que há quem queira destruir a diversidade e a miscigenação brasileira que conquistaram a simpatia do mundo para “colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre raças, sempre mascarados de ‘luta por igualdade’ ou ‘justiça social”. Em sua avaliação, ”tudo” isso seria feito “em busca de poder.”

O presidente reconheceu que o Brasil tem os seus problemas.” Mas destacou a existência de diversos interesses “para que se criem tensões entre nós.” “Um povo unido é um povo soberano. Dividido é vulnerável. E um povo vulnerável pode ser mais facilmente controlado e subjugado. Nossa liberdade é inegociável”, afirmou Bolsonaro.

 

Abordagem “certa” contra a epidemia apesar de milhares de mortos

 

Segundo ele, “à medida que a pandemia é superada no Brasil, a vida das pessoas retorna à normalidade e as perspectivas para a retomada econômica se tornam mais positivas e concretas”. Mais cedo, em mensagem de vídeo gravada para os participantes do G20 ele defendeu a maneira como o Brasil enfrentou a pandemia. O presidente garante que o tempo está provando que estava “certo”.

Na sexta-feira, um dia antes dos pronunciamentos do presidente, o Brasil, que já era o terceiro mais atingido do mundo pela pandemia (perde apenas para Estados Unidos e Índia) em números absolutos, ultrapassou a marca de seis milhões de casos de Covid-19, com 168.600 mortes. Profissionais da saúde alertam para o aumento de contaminados em várias capitais nos últimos dias e pesquisadores acreditam que o país já atravessa a segunda onda.

“Desde o início, nós ressaltamos que era preciso cuidar da saúde das pessoas e da economia simultaneamente. O tempo vem provando que estávamos certos”, afirmou o líder brasileiro em um vídeo de 57 segundos, que a presidência saudita da cúpula divulgou junto com mensagens dos primeiros-ministros da Itália, Guiseppe Conte, do Reino Unido, Boris Johnson, da Espanha, Pedro Sanchéz, e do presidente da Turquia, Recep Tahyp Erdogan.

Em mais um capítulo da chamada diplomacia digital, os líderes das 20 maiores economias do mundo tiveram neste sábado a primeira rodada de reuniões no âmbito da cúpula. A partir das suas telas de computador, discutiram uma estratégia conjunta de combate ao novo coronavírus, o que consideram fundamental para a recuperação da economia global.

No evento paralelo sobre o “Preparo e resposta do mundo à pandemia”, lideres internacionais defenderam o papel da Organização Mundial de Saúde (OMS) durante a crise. Bolsonaro, o presidente americano, Donald Trump, e outros líderes, como o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, não participaram desta sessão. Ao longo deste ano, a atuação da OMS foi torpeada por Trump, que retirou os Estados Unidos da agência.

A mudança do clima também está no topo da agenda. O tema não foi mencionado por Bolsonaro, embora haja grande expectativa sobre as ações do Brasil nesta matéria. Ele defendeu, contudo, uma reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC) e cobrou dos países desenvolvidos “a ambição de reduzir os subsídios para bens agrícolas”, esperando contar “com a mesma vontade com que alguns países buscam promover o comércio de bens industriais”. Segundo ele, é preciso evitar que se caia na armadilha de subsídios e políticas que distorçam o comércio internacional.


“A reforma da OMC, que já se fazia necessária antes da pandemia, torna-se, agora, elemento-chave para a recuperação da economia mundial”, afirmou.

Os encontros virtuais entre os líderes são fechados para a imprensa. O discurso de Bolsonaro foi divulgado pelo Palácio do Planalto.

Na abertura do evento, o rei saudita e anfitrião da cúpula Salman bin Abdulaziz Al Saud afirmou que os países precisam se preparar melhor para pandemias no futuro, reabrir as economias e fronteiras para facilitar o movimento de mercadorias e pessoas. O comércio, disse ele, é o motor para a recuperação da economia global.

Neste domingo será divulgada a declaração final do grupo. Espera-se uma pregação da moratória da dívida dos países mais pobres.

Assista ao discurso:

 

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