Política

Brasil, democracia fraturada

Na série “Diálogos Capitais nas Livrarias”, Claudio Couto e Vitor Marchetti discutiram os impactos do impeachment nas instituições brasileiras

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A democracia brasileira está fraturada após o processo de impeachment de Dilma Rousseff e o sistema político-partidário terá dificuldades de se recompor para garantir que as instituições continuem funcionando. Essa é a conclusão do debate “A democracia do Brasil está consolidada?”, parte da série Diálogos Capitais nas Livrarias, realizado por CartaCapital na noite de segunda-feira 23 na Fnac Paulista, com as participações dos cientistas políticos Claudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas, e Vitor Marchetti, da UFABC.

Para os dois analistas, se uma discussão a respeito da solidez democrática brasileira fosse realizada há poucos anos, raros seriam os diagnósticos de que o País ainda tinha problemas neste aspecto. O processo de impeachment, entretanto, mudou a situação.

Para Couto, a polarização política atual tem origem nas manifestações de target="_self" title="">junho de 2013, que foram uma “caixa de Pandora”, e se galvanizou nas eleições de 2014, quando o PT e o PSDB disputaram o Palácio do Planalto pela quarta vez seguida no segundo turno. A radicalização fomentada naquele período, diz Couto, fez setores da sociedade se verem como “ilegítimos e passíveis de serem eliminados” pelo outro.

Para o professor da FGV, ainda que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outras figuras importantes do PT sejam conhecidos pelo discurso na linha do “nós contra eles”, foram os setores reacionários, nas redes sociais e na imprensa, que acrescentaram um “elemento de ódio” no debate político no País, derivado das inúmeras mudanças sociais ocorridas nos governos petistas.

Na análise de Marchetti, a radicalização da sociedade não é essencialmente negativa, pois ajuda a marcar posições. O problema, diz o professor da UFABC, é quando a classe política deixa de manobrar esses sentimentos extremados para aderir a eles, como tem ocorrido. 

Marchetti lembra que todas as democracias consolidadas possuem sistemas partidários firmes e bem arraigados. Diante da crise atual, e da contaminação da política pelo ódio, o sistema partidário brasileiro “derreteu” e “perdeu a capacidade de mediar” as demandas da sociedade.

O impeachment, na análise dos debatedores, é o grande símbolo desta crise. Para Marchetti, todo o processo que culminou no afastamento de Dilma Rousseff tratou-se de um golpe.

Couto vê crime contra a lei orçamentária nas ações da presidenta afastada, mas diz que essa discussão perde o sentido pois o impeachment estava definido antes mesmo de surgir uma razão jurídica para justificá-lo. O professor da FGV lembra que o PSDB não aceitou o resultado das urnas e buscou diversas maneiras de anular a vitória eleitoral do PT.

Na sequência, o partido resistiu ao ímpeto pelo impeachment, mas acabou sendo arrastado pelos setores mais reacionários e aderiu ao movimento. “Ali o PSDB vira a UDN”, disse Couto, em referência à União Democrática Nacional, partido conservador que se opôs a Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart e se notabilizou por não aceitar as regras das disputas eleitorais.

Para Marchetti, é neste ponto que reside o maior perigo do momento pelo qual passa o Brasil. “Em uma democracia estável, o perdedor sabe que a derrota eleitoral é o custo que tem de assumir para eventualmente voltar ao poder”, diz. “Se essa possibilidade [de vencer as eleições e governar] se perde, qual a motivação para continuar atuando dentro das regras?”.

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