Caixa nomeou dirigente em processo com cara de ‘marmelada’

Escolhido assumiu duas semanas antes do fim da seleção e teve o nome antecipado cifradamente por concorrente

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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Em janeiro de 2018, a Caixa Econômica Federal demitiu quatro vice-presidentes suspeitos de prestar serviços antiéticos aos partidos, MDB à frente, responsáveis pela contratação deles. Um tempo depois, por ordem do ex-ministério da Fazenda, o banco mudou seu estatuto. Os dirigentes seriam escolhidos em processos seletivos conduzidos por consultorias do tipo headhunters.

E se os processos seletivos forem eles próprios antiéticos? É uma suspeita a pairar sobre a gestão de Pedro Guimarães, o presidente da Caixa que nomeou como assessor seu personal trainer (“Ele é meu amigo e preciso de gente de confiança”, justificou-se), motivo de uma deputada ex-bancária, Erika Kokay (PT-DF), ter pedido providências ao Ministério Público Federal.

A suspeita refere-se à escolha de Paulo Henrique Ângelo Souza para vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias, cargo que cuida do bilionário FGTS. O processo seletivo para a vaga tinha sido aberto em 4 de abril, conforme com um informe interno do banco, o 002/2019. E iria até 30 de abril. Souza está no cargo, porém, desde 16 de abril.

Ele é funcionário de carreira da Caixa. Um outro funcionário do banco aspirante à mesma vaga, Paulo Campos, desconfiou de marmelada depois de inscrever-se no processo seletivo. E publicou uma mensagem cifrada em seu Twitter, em 12 de abril, a antecipar o desfecho da história.

“Vamos Iniciar Facilmente Uma Generosa novena dedicada a São Paulo e Santo Ângelo. Nesta quarta feira, em que houve Garantia de Tempo firme, teve início esse Mega evento. Ass: O Gladiador (Russell Crowe).”


As iniciais das quatro primeiras palavras da mensagem formam “Vifug”, sigla pela qual é conhecida no banco a vaga em disputa (Vice-Presidência de Fundos de Governo e Loterias). Os santos citados são Paulo e Ângelo, o nome do vencedor da vaga. “Garantia de Tempo” alude ao FGTS. E “Russell Crowe”, à empresa de headhunter que conduzia a seleção, a Russell Reynolds.

Por meio da assessoria de imprensa, a Caixa diz que Souza tinha assumido o cargo em 16 abril em caráter provisório, por decisão do conselho de administração tomada um dia antes da posse. E que ele só foi efetivado em 27 de maio, já com o processo seletivo encerrado. Será?

Em 17 de abril, o banco emitiu um comunicado público a informar a decisão do conselho mencionado pela assessoria. No texto, Souza e Alexandre Xavier Iwata de Carvalho, este nomeado vice-presidente de Controles Internos, eram descritos como “novos dirigentes”. Nem uma palavra sobre interinidade ou provisoriedade. E ainda havia um resumo do currículo de ambos.

Detalhe: Iwata foi colaborador de campanha do presidente Jair Bolsonaro. A colaboração pesou no processo seletivo?

Um dia depois, 18 de abril, a Caixa divulgou outro comunicado, a dizer que Souza ficaria no cargo “até a conclusão do processo seletivo em andamento, quando o candidato eleito será anunciado, de acordo com os termos do edital de seleção divulgado”. Uma tentativa, segundo se ouve no banco, de disfarçar a marmelada e salvar as aparências.

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