Câmara do Rio cobra de Carlos Bolsonaro informações sobre ida à Rússia

Pressionado por vereadores a dar explicações sobre viagem, filho de Jair Bolsonaro diz que participou de sessões da Casa de forma remota

O vereador Carlos Bolsonaro. Foto: Câmara Municipal do Rio de Janeiro

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O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) enfrenta pressão na Câmara Municipal do Rio para que dê explicações sobre a viagem que fez à Rússia com a comitiva de seu pai, o presidente Jair Bolsonaro, no último mês. O vereador Chico Alencar (PSOL) encaminhou ontem uma interpelação ao senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que será anexada ao pedido de esclarecimento feito pelo parlamentar ao Supremo Tribunal Federal (STF).

O entendimento na Casa, que tem acordo inclusive entre vereadores conservadores, é de que, como agente público, Carlos deveria justificar o motivo da viagem, qual foi sua agenda, quem financiou os custos e como isso beneficia a população carioca. Em resposta a um pedido do ministro do Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o governo federal informou que não teve gastos com a viagem do vereador, mas não deu informações sobre seu papel na agenda presidencial. A Câmara Municipal também negou que tenha arcado com os custos, que incluem transporte, consumo e hospedagem.

Entre as suspeitas que embasam os questionamentos, está a possibilidade de que a viagem envolveu discussões sobre interferências russas nas eleições brasileiras, por meio da internet. Para Alencar, o “sigilo feito por Carlos sobre isso autoriza essas suspeitas”:

— É um debate com os princípios republicanos mais elementares. Um agente público é convidado por outra instância de Poder para uma viagem internacional. Que resultados essas conversas trouxeram para o Rio ou para o Brasil? Quem financiou? Se ele pagou do próprio bolso, tem que dizer isso. Por que o mistério? No silêncio, revestindo essa viagem de segredos, ele fere esses princípios.

Ainda de acordo com Alencar, também foi feita ontem uma interpelação ao ministro Alexandre de Moraes para reforçar os pedidos de esclarecimento. Segundo o vereador, Carlos não respondeu aos questionamentos feitos durante sessão da Câmara.

Na última terça-feira, após ser confrontado por Alencar, Carlos argumentou que esteve presente de forma remota nas sessões da Câmara durante a viagem, como permite o regimento interno da Casa.


— Não há problema qualquer vereador estar em outro lugar. Se não gostou, pisa no chão, pisa nas calças e vamos adiante — disse, na ocasião.

O vereador Pedro Duarte (Novo), que reforça a cobrança por maior transparência, entende que, “aparentemente, do ponto de vista do regimento da Câmara, não houve descumprimento”. Mas também questiona por que Carlos esteve na viagem e qual o seu propósito.

— Independentemente do ponto de vista legal, com todos nós que estamos na vida pública é sempre de bom tom que nossos atos tenham a maior transparência possível, para explicar como tomamos nossas decisões. Sobretudo em uma viagem internacional, a um país como a Rússia, às vésperas de um conflito, e acompanhando o presidente da República — afirmou Duarte.

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