Política
Clã de Bolsonaro já se inquieta com a CPI das Fake News
Eleição 2018 e intrigas no Planalto explicam por que deputados do PSL estranham a mira nas milícias digitais
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O bolsonarismo inquieta-se com a notícia de que a CPI das Fake News vem aí. Filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirma ser contra qualquer política de intervenção na mídia e nas redes sociais. Sua colega Bia Kicis (PSL-DF) diz que a CPI não pode servir de caça às bruxas contra aqueles que criticam o Congresso nas mídias sociais.
São manifestações reveladoras de que as milícias digitais bolsonaristas sentem-se ameaçadas pela CPI. O proponente da investigação tem de fato essas milícias na mira. No pedido protocolado recentemente, o deputado Alexandre Leite (DEM-SP) defende apurar “a utilização de perfis falsos para influenciar os resultados das eleições de 2018” e o “ciberbullyng” contra agentes públicos.
Leite cita pesquisas feitas na eleição presidencial de 2014 por uma divisão da FGV que estuda ação política na web, a DAPP. Perfis falsos disseminadores de notícias idem geraram 10% da interação no Twitter na campanha. Entre apoiadores do tucano Aécio Neves, 20% da interação nasceu de robôs. Mesmo percentual entre tuiteiros petistas visto no impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.
O pedido de CPI cita ainda a possível ação ação russa para interferir na eleição americana de 2016 e a possibilidade de dinheiro estrangeiro pagar robôs e disseminação de mentiras no Brasil. “Uma ação acertada, típica de organizações criminosas, cujo propósito é se valer das mídias sociais e da internet para atacar e desmoralizar as instituições republicanas”, diz Leite no texto.
O atual coordenador da FGV-DAAP, Danilo Carvalho, participou em 17 de maio de um seminário sobre fake news organizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e comentou: em outubro de 2018, reta final da eleição, a DAPP notou dois casos “massivos” de fake news. Kit gay e fraude eleitoral. Ambas espalhadas por bolsonaristas.
(Foto: Reprodução/Mídia Social)
Na segunda-feira 3, Jair Bolsonaro sancionou lei que altera o Código Eleitoral para punir, com até oito anos de prisão, policiais, promotores, procuradores e juízes que abrirem inquérito ou processo judicial contra alguém sabidamente inocente. A punição atingia quem passasse adiante a calúnia “por qualquer meio ou forma”. Era um tiro nas fake news. Bolsonaro vetou o dispositivo.
Em abril, o secretário de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, defendeu uma lei contra desinformação e distorções nas redes sociais. “A legislação tem de ser aprimorada, e as pessoas de bom senso têm de atuar mais para chamar as pessoas à consciência de que a gente precisa dialogar mais, e não brigar”, disse a uma radio. Apanhou duramente do bolsonarismo.
Em 5 de maio, a hashtag #ForaSantosCruz foi uma das campeãs no Twitter. O “filósofo” Olavo de Carvalho insuflou as milícias digitais bolsonaristas contra o general. O próprio presidente e seu filho Eduardo tuitaram contra a opinião de Santos Cruz, que foi reclamar no mesmo dia com o chefe.
Logo depois, o general foi alvo do que diz ser uma armação digital. Circulou entre bolsonaristas uma conversa de Whatsapp que ele teria tido com alguém, em 6 de maio, sobre a reunião da véspera com Bolsonaro. Na conversa, ele ofende o presidente (“idiota”), o filho 03, Carlos (“desequilibrado”), e o secretário de Comunicação Social do governo, Fabio Wajngarten (“frouxo”).
Em 14 de maio, Santos Cruz disse nos Estados Unidos que a montagem do Whatsapp era “um crime absurdamente mal feito”, pois naqueles dia e hora daquela conversa (entre 8h04 e 8h25 de 6 de maio), ele estava num avião a caminha do Amazonas. Ele pediu à Polícia Federal (PF) que investigue o autor do crime.
Com métodos assim, dá para entender a inquietação bolsonarista com a CPI das Fake News.
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