Política

Com “50 tons de Temer” e sem PT, debate da Band fica no zero a zero

Principais candidatos fugiram de confrontos mais ríspidos e pouco mencionaram o ex-presidente Lula

Os candidatos protagonizaram um morno confronto na Band
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Foi de Guilherme Boulos, do PSOL, um dos melhores bordões do morno debate realizado pela TV Bandeirantes nesta quinta-feira 9 entre os candidatos à Presidência. Dos oito participantes, seis defenderam o impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Segundo Boulos, Henrique Meirelles, do MDB, não era o único candidato de Michel Temer: havia ali “50 tons de Temer”.

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Na ausência de um representante do PT, os principais concorrentes fugiram de confrontos mais duros. Ciro Gomes, do PDT, criticou a reforma trabalhista defendida por Geraldo Alckmin, do PSDB, mas não o atacou excessivamente. Marina Silva, da Rede, classificou o acordo do “centrão” costurado pelo tucano como uma aliança “só por tempo de televisão”, mas não chegou a criticá-lo diretamente. Jair Bolsonaro, do PSL, se indispôs com Ciro, mas manteve relativa calma quando Boulos o atacou. 

O encontro revelou-se apenas um aquecimento da campanha, possivelmente sob o olhar atento do “elefante na sala” (ou no estúdio) que a maioria preferiu ignorar, para o bem ou para o mal. Líder nas pesquisas de intenção de voto, Lula, preso há quatro meses em Curitiba, pouco foi mencionado pelos participantes. O único a criticar sua prisão e sua ausência do debate, impedida pela Justiça mesmo por teleconferência, foi Boulos.

Após desavenças públicas com o PT, Ciro pouco mencionou o ex-presidente. Ele fez críticas à política econômica de Dilma, mas chamou seu impeachment de golpe. Por outro lado, elogiou o trabalho do juiz Sérgio Moro para o País, embora tenha criticado o recebimento de auxilio-moradia pelo magistrado, que tem imóvel próprio. 

Paralelamente ao debate, o PT organizou uma “live” em seu Facebook com a presença de Fernando Haddad, apontado como substituto de Lula caso o ex-presidente não possa concorrer, Manuela D’Ávila, que será a vice na chapa a partir de 15 agosto, além de Gleisi Hoffmann, presidenta do PT, e o coordenador de campanha José Sérgio Gabrielli. Para estudar seus adversários, a legenda enviou “olheiros” para o debate da Band, a exemplo do tesoureiro Emídio de Souza.

Bolsonaro foi atacado principalmente por Boulos. Na primeira pergunta entre candidatos do debate, ele o chamou de “racista e homofóbico”. O candidato do PSOL perguntou ao deputado “quem era Val”, apontada como funcionária fantasma do parlamentar em reportagem da Folha de S.Paulo. Afirmou que ele aprovou apenas dois projetos, mas comprou cinco imóveis em 26 anos de Congresso. “Você não tem vergonha?”.

Ao seu estilo, o postulante do PSL respondeu: “Eu teria vergonha se ficasse invadindo a casa dos outros”, em referência ao fato de Boulos ser líder do Movimentos do Trabalhadores Sem Teto. 

Apesar de ter mantido a calma por grande parte do debate, Bolsonaro perdeu a linha ao ser criticado por Ciro por ter aprovado, entre seus dois projetos bem-sucedidos, o uso da chamada “pilula do câncer”, a fosfoetanolamina. O candidato esbravejou por um direito de resposta, mas não foi atendido. 

Logo no início do debate, Bolsonaro defendeu a posição dos empresários sobre reduzir direitos trabalhistas, e reconheceu que sua posição poderia custar votos. “Todos nós sabemos que o salário do Brasil é pouco para quem recebe, e muito para quem paga. Os empresários tem dito para mim: menos direitos, e emprego, ou todos os direitos, e desemprego.”

Enquanto o candidato do PSL buscou trabalhar seu temperamento, Cabo Daciolo, do Patriota, disparou contra tudo e todos. No debate graças aos cinco parlamentares de seu partido na Câmara, ele se definiu como “servo do Deus vivo” ao longo de todo o encontro e se irritou até com jornalistas.”Todos os brasileiros que estão fora do País, voltem, pois a transformação está próxima”, orou ao final de uma critica a Alckmin por seu acordo com o “centrão”. Assim como Bolsonaro, atacou o “comunismo”. Não à toa, o chamou de “irmão”. 

Estacionado nas pesquisas com 1% das intenções de voto, Henrique Meirelles, ex-ministro de Temer, não teve vida fácil. Foi lembrado sempre que possível de sua ligação com o presidente mais impopular desde o fim da ditadura. Pouco habituado ao papel de candidato, o economista demonstrou dificuldade para defender sua política econômica. Curiosamente, ele foi um dos poucos a citar Lula, ao lembrar que foi presidente do Banco Central durante seu governo. O ex-ministro disse não trabalhar nem para o petista e nem para Temer, mas “para o País”. 

Enquanto a prisão de Lula não foi alvo de debates dos candidatos, a Operação Lava Jato foi elogiada por diversos deles, em especial Álvaro Dias, do Podemos. O candidato reiterou o convite a Sérgio Moro para ser seu ministro da Justiça e prometeu que transformará a operação “em uma política de Estado”. 

Em matéria de economia, a maior parte dos candidatos repetiu fórmulas prontas. Marina e Alckmin praticamente alinharam o discurso ao afirmarem que o caminho para a retomada econômica é aumentar o investimento e recuperar a credibilidade. Ciro foi mais objetivo, ao apresentar uma proposta de retomada de obras públicas e um esforço para tirar os brasileiros da lista suja do Sistema de Proteção ao Crédito (SPC). 

Ao fim do debate, a impressão é a de que a campanha ainda não começou, mas revela-se apenas um desdobramento da rodada de sabatinas anteriores. Com a indefinição sobre a situação de Lula e do PT, os candidatos não atacam nem defendem o “elefante na sala”, líder nas pesquisas, ou mesmo seu provável substituto. Por ora, apenas tentaram se apresentar aos eleitores nesta confusa eleição. 

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