Confira imagens de Bolsonaro após batida da PF – e o que se sabe sobre operação contra Carlos

A ação pretende identificar os 'principais destinatários e beneficiários' de informações produzidas ilegalmente pela Abin

Carlos e Jair Bolsonaro em dia de operação da PF em Angra dos Reis (RJ). Foto: Reprodução: TV Rio Sul

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A Polícia Federal foi às ruas pela segunda semana consecutiva para investigar um suposto esquema ilegal de monitoramento por meio da Agência Brasileira de Inteligência durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Nesta segunda-feira 29, o alvo é o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Agentes da PF cumpriram mandados de busca e apreensão na residência de Carlos, no gabinete dele na Câmara Municipal do Rio e em um imóvel de Angra dos Reis (RJ), onde estão o vereador, o ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O clã promoveu uma transmissão ao vivo nas redes sociais no domingo 28 direto da cidade.

Carlos não estava na residência de Angra no momento da batida da PF e só apareceu no imóvel por volta das 11h. Ele ainda não se pronunciou oficialmente sobre a operação.

Na manhã desta segunda, ao anunciar que a ação pretende identificar os “principais destinatários e beneficiários” de informações produzidas ilegalmente pela Abin, a PF informou que cumpre oito mandados de busca e apreensão: cinco no estado do Rio de Janeiro e os demais em Brasília, Formosa (GO) e Salvador (BA).

Veja imagens de Jair e Carlos Bolsonaro após a operação da PF e confira mais detalhes sobre a investigação. (Fotos: TV Rio Sul)


O que é a “Abin paralela”

A operação desta segunda contra Carlos Bolsonaro é um desdobramento das diligências cumpridas pela PF na última quinta-feira 25 contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ). Todas as medidas foram autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

O objetivo da PF é investigar uma suposta organização criminosa instalada na Abin, órgão chefiado por Ramagem entre julho de 2019 e abril de 2022. O esquema serviria para monitorar desafetos do governo de Jair Bolsonaro, por meio de ferramentas de geolocalização de dispositivos móveis – sem autorização judicial.

A PF identificou que essa organização criminosa espionava autoridades por meio da invasão de aparelhos e computadores, além da infraestrutura de telefonia. A articulação ocorreria em diferentes núcleos.

O principal grupo, denominado pela PF de “Núcleo da Alta Gestão”, seria formado pelos delegados à época cedidos para a Abin e que ocupavam cargos de direção na agência. O principal integrante do núcleo seria Ramagem. O objetivo central seria, por meio da utilização do sistema espião First Mile, monitorar alvos e pessoas públicas e realizar um “serviço de contrainteligência e criação de relatórios apócrifos que seriam divulgados com o fim de criar narrativas falsas”.

O “Núcleo Subordinados” contaria com policiais federais cedidos à Abin que serviriam como “staff” para a alta gestão. Já o “Núcleo-Evento Portaria” teria os responsáveis por diligências que resultaram na tentativa de vincular parlamentares e ministros do Supremo a uma organização criminosa. Por fim, ao “Núcleo Tratamento Log” caberia o tratamento dos logs disponíveis desde o início da investigação.

Segundo a decisão de Moraes, apurações internas da Abin sobre a utilização do software espião teriam sido atrapalhadas por interferência de Alexandre Ramagem e de Carlos Afonso Gonçalves Coelho, ex-secretário de Planejamento e Gestão e ex-diretor-adjunto.

Um dos alvos do suposto esquema de monitoramento ilegal seria o então governador do Ceará, Camilo Santana (PT), hoje ministro da Educação.

Segundo Moraes, policiais federais cedidos à Abin, sob a direção de Ramagem, utilizaram ferramentas e serviços da agência a fim de interferir em diversas investigações da PF – um exemplo seria a tentativa de produzir provas a favor de Jair Renan Bolsonaro, filho do ex-presidente, em um inquérito sobre suposto tráfico de influência.

A decisão também aponta estar confirmada a utilização da Abin na preparação de relatórios para embasar a defesa do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no caso das “rachadinhas”, protagonizado por Fabrício Queiroz. O parlamentar nega a acusação.

Por meio do “Núcleo-Evento Portaria”, a suposta organização criminosa ainda teria tentado associar deputados federais e ministros do STF ao Primeiro Comando da Capital, facção criminosa conhecida como PCC. De acordo com a Procuradoria-Geral da República, o intuito seria “alimentar a difusão de fake news contra os magistrados da Suprema Corte”.

Outros alvos do monitoramento ilegal seriam o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia e a ex-deputada Joice Hasselmann. Além disso, a PF indicou que a Abin foi utilizada para monitorar uma promotora de Justiça responsável pela investigação sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL).


A PF pediu a suspensão do mandato parlamentar de Ramagem, mas a solicitação foi negada por Moraes, sob o argumento de que “não se vislumbra a atual necessidade”.

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1 comentário

joao medeiros 31 de janeiro de 2024 20h18
Então, era isto, que o agente do FBI infiltrado no senado, Marcos Durval, apregoava que tinha informações trancada em seu cofre de autoria da ABIN. Transformaram um órgão de estado oficial em uma GESTAPO de espalhar mentiras e factodes. Imaginem se estes mequetrefes tivessem ganho às eleições seus apoiadores arrependidos e opositores estariam sendo executados e, exemplarmente, torturados, desaparecidos e cancelados sadicamente!

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