CPMI do 8 de Janeiro: Ex-diretor da PRF nega atuação política em blitze no 2º turno

As informações apresentadas pelo ex-diretor da PRF, Silvinei Vasques, divergem de levantamentos da imprensa e da própria investigação da PF

Depoimento ex-Diretor Geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, na CPMI. Foto: Bruno Spada / Câmara dos Deputados

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O ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques negou, em depoimento à CPMI do 8 de janeiro, que a corporação tenha atuado para prejudicar os eleitores do então candidato Lula (PT) no Nordeste.

Durante a sua explanação à comissão, Vasques refutou, por exemplo, a tese de que a PRF tenha direcionado mais agentes para fiscalizar o Nordeste durante o segundo turno.

“Isso não é verdade, não é verdade porque o Nordeste brasileiro é o local em que nós temos nove estados, nove superintendências, temos a maior estrutura da PRF no Brasil, a maior quantidade de unidades da PRF”, declarou o ex-diretor.

Um levantamento feito pelo UOL e divulgado em abril, porém, mostra que a PRF escalou mais agentes de folga para trabalhar em blitze nos estados onde Lula venceu Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno. As informações apontam que o efetivo extra foi utilizado, principalmente, em estados das regiões Norte e Nordeste do País.

Estados como Amazonas, Pará, Amapá, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Sergipe tiveram um aumento de mais de 100% de policiais de folga atuando no segundo turno, em comparação com a primeira votação, segundo o veículo.

Em outro momento de seu depoimento, o ex-diretor negou que a PRF tenha obtido informações privilegiadas sobre os eleitores. “As polícias ostensivas trabalham com georreferenciamento e estatística. Nós não somos somos uma polícia judiciária que tem alguma informação privilegiada em razão da sua atividade”, alegou.


Uma investigação da Polícia Federal, no entanto, apontou para a existência de um ‘boletim de inteligência’ produzido em outubro de 2022 que detalhava os locais onde Lula havia sido mais votado no primeiro turno. De acordo com a publicação, o documento teria sido feito pela diretora de Inteligência do Ministério da Justiça à época, Marília Alencar, delegada que foi trabalhar com o então ministro Anderson Torres na Secretaria de Segurança do Distrito Federal neste ano.

Vasques também apresentou números sobre as operações realizadas em 30 de outubro do ano passado. O ex-diretor falou em 694 pontos de fiscalização no País, “e o Nordeste, assim como o Norte, foram os locais onde a polícia menos realizou fiscalização”.

“Onde mais se fiscalizou foi no Sudeste, depois no Sul e Centro-Oeste. E o Nordeste, empatado com o Norte, ficou na quarta posição.”

O ex-diretor disse que houve uma média de 25 locais de fiscalização por estado no Nordeste.

Um levantamento parcial feito pela TV Globo durante o segundo turno identificou que 50% das operações da PRF realizadas no dia da votação se concentraram no Nordeste.

“É um crime impossível, que não ocorreu, não tem como. Como falaríamos com 13 mil policiais no Brasil, explicando qual era a forma criminosa de operar, sem ter uma conversa de WhatsApp, Telegram, sem ter uma reunião com esses policiais em alguma delegacia do Brasil, sem ter um e-mail enviado?”, questionou Vasques, que chegou a dizer que o caso era a maior injustiça já realizada contra a PRF.

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