Política

Diretor-geral da Polícia Federal é alvo de representação após nota contra Moro

Queixa foi feita pelo delegado Alexandre Saraiva, que perdeu o posto após embate com ex-ministro de Bolsonaro

O ex-juiz Sergio Moro. Foto: Nelson Almeida/AFP
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Após atrito entre a direção da Polícia Federal e o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, o delegado Alexandre Saraiva decidiu processar o diretor da corporação, Paulo Maiurino, por supostamente agir com “cunho eleitoral”. O imbróglio teve início na terça-feira, após a Polícia Federal emitir uma nota oficial para rebater Moro, que, em entrevista à Rádio Jovem Pan, criticou a atual gestão da corporação dizendo que “hoje não tem ninguém no Brasil sendo investigado e preso por grande corrupção”.

Em nota assinada como “a Polícia Federal”, o órgão acusou Moro de “mentir” e se defendeu, afirmando que efetuou “mais de mil prisões apenas por crimes de corrupção nos últimos três anos”.

O tom da nota foi pouco usual, uma vez que órgãos públicos não costumam se envolver no ringue da política eleitoral e responder a pré-candidatos, especialmente a Polícia Federal, que atualmente está investigando a suspeita de interferência política na corporação por parte do presidente Jair Bolsonaro.

No texto, a PF ainda afirmou que o ex-juiz da Operação Lava-Jato “faz ilações” ao citar trocas feitas nas superintendências pelo atual delegado-geral, Paulo Maiurino, como exemplo de supostas retaliações pelo governo. Maiurino foi nomeado ao cargo pelo atual ministro da Justiça, Anderson Torres, que entrou no lugar de André Mendonça, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal, que, por sua vez, substituiu Sergio Moro.

“O ex-ministro não aponta qual fato ou crime tenha conhecimento e que a PF estaria se omitindo a investigar. Tampouco qual inquérito policial em andamento tenha sido alvo de ingerência política ou da administração”, diz a nota da corporação, que ressaltou que as operações tocadas pelo órgão “vão muito além da repressão aos crimes de corrupção”.

Em seu perfil no Twitter, Moro reagiu ao texto da direção da corporação com a seguinte publicação: “Eu respeito muito a PF, os delegados, agentes, escrivães, peritos, papiloscopistas e servidores. Este momento vai passar. Vocês vão voltar a ser valorizados”.

A representação foi protocolada na corregedoria da PF e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O autor da queixa é o delegado Alexandre Saraiva, removido da Superintendência da PF no Amazonas, em abril do ano passado, após uma polêmica envolvendo o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. O afastamento ocorreu após Saraiva enviar ao Supremo Tribunal Federal uma notícia-crime contra Salles e o senador Telmário Mota (Pros-RR).

Para Saraiva, que foi transferido para a delegacia da PF em Volta Redonda, no Rio de Janeiro, Salles e Mota fizeram um acordo com o setor madeireiro “no intento de causar obstáculos à investigação de crimes ambientais e de buscar patrocínio de interesses privados e ilegítimos perante a Administração Pública”.

Na representação entregue à corregedoria da PF, Saraiva diz que, embora não seja assinada,  a nota da corporação a Moro só foi publicada por determinação expressa do diretor-geral.

“Ao assim agir, o DPF Maiurino manifesta possíveis objetivos de cunho eleitoral, conduta gravíssima”, afirma.

O delegado alega, ainda com relação à nota, que rebater opiniões de qualquer cidadão “já é ato desarrazoado à luz de uma sociedade regida por princípios democráticos. Entretanto, no caso vertente, a publicação oficial da PF foi muito além do simples desmentido.” Para Saraiva, ao tecer as críticas durante a entrevista, Moro “simplesmente exerceu seu direito de liberdade de expressão”.

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