Política
Dissonância interna
O governo federal avança nos compromissos ambientais, mas enfrenta oposição no Congresso e nos estados
No momento em que habitantes da cidade gaúcha de Muçum estavam reunidos para rogar aos céus o fim das inundações no Vale do Taquari, Lula subia ao púlpito da ONU disposto a colocar o Brasil no papel de liderança no enfrentamento global às mudanças climáticas e da adoção de novas e sustentáveis formas de produção. Muito aplaudido ao anunciar a intenção de se posicionar “na vanguarda da transição energética”, o presidente brasileiro usou como trunfo a redução de 48% no desmatamento da Amazônia em apenas oito meses de gestão e o esboço do plano de transição sustentável, que tem entre as novidades o lançamento de “títulos verdes” emitidos pelo Tesouro para financiar projetos ambientalmente amigáveis.
Infelizmente, Lula expressa apenas a posição de uma parte do Brasil. No Congresso, estados e prefeituras, outra visão de mundo colide com as boas intenções do presidente e ameaça as promessas federais. Para Cláudio Couto, cientista político da FGV, o atual governo enfrenta “tensões ambientais internas” vistas nas administrações anteriores do petista e expressas, neste momento, na relação entre os ministérios do Meio Ambiente e de Minas e Energia. “Isso reflete a heterogeneidade do governo, agora ainda mais explicitada com a entrada de representantes do ‘Centrão’ no ministério. É uma tensão esperada, que não vai acabar tão rápido, dá para imaginar que o governo vai funcionar assim o tempo todo.”
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Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
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