Dissonância interna

O governo federal avança nos compromissos ambientais, mas enfrenta oposição no Congresso e nos estados

Referências. As ministras Sônia Guajajara e Marina Silva simbolizaram na ONU o compromisso do Brasil com a preservação do meio ambiente – Imagem: MPI e Victor Moriyama/MMA

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No momento em que habitantes da cidade gaúcha de Muçum estavam reunidos para rogar aos céus o fim das inundações no Vale do Taquari, Lula subia ao púlpito da ONU disposto a colocar o Brasil no papel de liderança no enfrentamento global às mudanças climáticas e da adoção de novas e sustentáveis formas de produção. Muito aplaudido ao anunciar a intenção de se posicionar “na vanguarda da transição energética”, o presidente brasileiro usou como trunfo a redução de 48% no desmatamento da Amazônia em apenas oito meses de gestão e o esboço do plano de transição sustentável, que tem entre as novidades o lançamento de “títulos verdes” emitidos pelo Tesouro para financiar projetos ambientalmente amigáveis.

Infelizmente, Lula expressa apenas a posição de uma parte do Brasil. No Congresso, estados e prefeituras, outra visão de mundo colide com as boas intenções do presidente e ameaça as promessas federais. Para Cláudio Couto, cientista político da FGV, o atual governo enfrenta “tensões ambientais internas” vistas nas administrações anteriores do petista e expressas, neste momento, na relação entre os ministérios do Meio Ambiente e de Minas e Energia. “Isso reflete a heterogeneidade do governo, agora ainda mais explicitada com a entrada de representantes do ‘Centrão’ no ministério. É uma tensão esperada, que não vai acabar tão rápido, dá para imaginar que o governo vai funcionar assim o tempo todo.”

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3 comentários

Vinicius Menezes Massaranduba Pretel 23 de setembro de 2023 19h41
A exploração de petróleo na Foz do Rio Amazonas, é uma aberração ambiental. Vai na contramão do mundo.
Cláudio Lemos Silva de Toledo 23 de setembro de 2023 23h22
CLÁUDIO TOLEDO As nações ricas deveriam estabelecer uma compensação financeira àqueles paises que abdiquem da exploração de petróleo na Amazônia. Os recursos aí arrecadados seriam destinados à transição para uma economia socialmente e ambientalmente justa.
José Carlos Gama 26 de setembro de 2023 13h22
Pra que lado os sinos vão dobrar no Brasil? essa é a pergunta que advem deste seu descobrimento ainda hoje o país não se apoderou de si nem quando era militarizado e agora, nessa nova face civil esta sob o julgo de uma democracia sem educação do povo e evangelizado até a medula. Os donos do poder não gostam do povo, o povo dependem destes e a democracia que seria o fiel da balança ou da esperança vira discurso para sair na foto - pratica nada.

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