Justiça
Escolhido por Bolsonaro para disputar o Rio, Ramagem teria monitorado adversários políticos do ex-capitão
O ex-diretor da Abin é alvo de uma operação da PF que investiga espionagem contra cidadãos e autoridades durante governo Bolsonaro
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O ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e atual deputado federal, Alexandre Ramagem (PL) foi alvo, nesta quinta-feira 25, de mandados de busca e apreensão em uma operação que investiga suposta espionagem praticada durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O monitoramento ilegal de inimigos políticos do ex-capitão, assim como advogados, jornalistas e até de juízes, teria acontecido entre dezembro de 2018 e 2021.
Durante esse período, o órgão de inteligência era conduzido por Alexandre Ramagem, amigo da família do ex-presidente.
Antes de assumir a Abin, Ramagem foi indicado por Bolsonaro para comandar a Polícia Federal, no entanto, a nomeação foi suspensa pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Segundo o ministro, a nomeação violava os princípios da impecabilidade, da moralidade e do interesse público.
À época da nomeação, o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Sergio Moro (União Brasil), teria afirmado que o ex-capitão queria interferir na PF.
Sob o comando de Ramagem, a agência de inteligência teria espionado, ao menos, 30 mil proprietários, sem nenhuma autorização judicial.
O dispositivo de rastreamento, de origem israelense, foi comprado ainda durante o governo do ex-presidente Michel Temer.
Chamada de “First Mile”, a ferramenta permitia o acompanhamento da geolocalização dos proprietários dos dispositivos.
Segundo a PF, isso era feito a partir de um software intrusivo usado para invadir a rede de telefonia brasileira.
Em 2021, a Polícia Federal prendeu dois servidores da Abin e afastou outros cinco diretores da agência.
Anos depois, veio à tona a informação de que Ramagem teria barrado a demissão dos funcionários da agência envolvidos no monitoramento ilegal.
Ainda antes da operação da PF, a agência já tinha aberto uma sindicância para apurar a participação da dupla de agentes investigados em uma empresa habilitada em um pregão do Exército, prática vetada para servidores.
Ramagem usou da burocracia do governo para atrasar a demissão da dupla.
A suspeita é que a direção da Abin estaria sendo chantageada pelos servidores que supostamente ameaçavam denunciar o uso ilegal da ferramenta First Mile para monitorar ilegalmente alvos políticos.
Ainda durante o comando de Ramagem, a Abin teria produzido diversos dossiês sobre inimigos políticos de Jair Bolsonaro.
Um dos dossiês tinha como alvo um dos ministros do governo Lula (PT).
A principal linha de investigação da PF dá conta de que os supostos dossiês foram produzidos a partir de dados obtidos por meio do First Mile em combinação com outras ferramentas da agência.
Os documentos produzidos pela agência foram entregues ao Palácio do Planalto, à época, comandado por Bolsonaro.
Após as denúncias do caso, Ramagem foi convocado pelo Senado para dar explicações sobre as suspeitas de espionagem política pela Abin.
No início de janeiro de 2024, a Procuradoria-Geral da República apontou haver indícios de que Ramagem teria se corrompido para evitar a divulgação do uso ilegal do software espião durante a gestão do ex-capitão.
Os envolvidos no suposto esquema de espionagem podem responder pelos crimes de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas. As penas dos crimes somadas pode chegar a 13 anos de prisão.
Apadrinhado político de Bolsonaro
Alexandre Ramagem foi o escolhido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro como candidato pelo PL para disputar a Prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições municipais de outubro de 2024.
A decisão da preferência do ex-capitão pelo nome do deputado foi comunicada ao presidente da sigla, Valdemar da Costa Neto.
O partido tinha outros três nomes como opções para disputarem o cargo: Ramagem, o senador Carlos Portinho e o deputado Eduardo Pazuello.
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