Política

Estudo da Prevent não prova que cloroquina funciona, admite fundador da empresa

A rede alterava o código de identificação de Covid-19 após 14 dias de internação do paciente, prática contrária às normas de saúde nacional

Foto: Reprodução
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O diretor da Prevent Senior, Fernando Parrillo, admitiu que o estudo da empresa que usou hidroxicloroquina associada a outros medicamentos ineficazes para tratar pacientes com Covid-19 não prova que os medicamentos funcionam. A operadora de saúde é acusada de usar clientes como cobaias e de fraudar atestados de óbito. 

“Nós não dávamos apenas hidroxicloroquina associada a azitromicina. Oferecíamos suplemento de zinco, potássio, vitamina D, era um conjunto de substâncias. Mas o nosso artigo não prova que essas drogas funcionam porque, para isso, precisaria de pesquisa científica”, afirmou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.

O estudo, que foi suspenso por não ter autorização da Comissão de Ética em Pesquisa, foi duramente criticado pela comunidade científica e não foi publicado em nenhuma revista da  área.

À Folha, Parrillo disse que era um acompanhamento observacional de pacientes, uma planilha das doenças e a evolução.

“Não foi usado placebo nem duplo cego, não foi randomizado, como se deve fazer em trabalhos desse tipo. Não faria sentido fazer uma pesquisa no meio da pandemia. Somos uma empresa privada, paga para salvar vidas”, disse.

O texto, no entanto, dizia que “os resultados sugerem que o tratamento precoce evita uma internação a cada 28 pacientes que iniciaram o protocolo ambulatorial proposto com hidroxicloroquina associada a azitromicina —o que impacta imensamente o sistema de saúde”.

O estudo foi publicado em redes sociais pelo presidente Jair Bolsonaro em abril de 2020. A postagem apontava que “a Prevent Senior conseguiu reduzir de 14 para 7 dias o tempo no uso de respiradores. Afirmou também que, de 224 pacientes que não usaram cloroquina, 12 foram internados e 5 morreram. Dos 412 que optaram pelo medicamento, 8 foram internados, não entubados, e houve zero mortes”.

A rede, administrada por Fernando e seu irmão Eduardo, que teve índices mais baixos de mortes pelo coronavírus se comparados com outros hospitais no País, alterava o código de identificação de doença após 14 dias de internação, prática contrária às normas de saúde nacional.

As informações constam em um dossiê entregue à CPI da Covid no Senado Federal e foram confirmadas pelo diretor da Prevent em depoimento à Comissão. 

No começo da semana, a GloboNews teve acesso às mensagens trocadas entre a equipe médica da rede e a diretoria alertando para que não fossem avisados aos pacientes e familiares a administração do “kit covid”. Indagado sobre isso, Parrillo afirmou que seria para evitar falsas esperanças.

“Não queríamos criar uma expectativa grande em relação à hidroxocloroquina, porque não havia a droga em quantidade suficiente à época. Era para evitar um boom de pedidos”, declarou em entrevista.

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