Política

“Ficar no governo Temer é dar abraço de afogado”, diz deputado tucano

Em meio ao racha interno do partido, deputado estadual do PSDB defende rompimento com o Planalto em nome da “coerência”

"Esse governo serve aos empresários e dá as costas para o trabalhador", diz Carlos Bezerra Jr.
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Os tucanos precisam deixar a base de apoio do governo Michel Temer (PMDB) se quiserem ser “coerentes”. É o que defende o deputado estadual Carlos Bezerra Jr. (PSDB-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

O PSDB é a principal base de sustentação de Temer no Congresso Nacional, mas as lideranças do partidos estão divididas quanto ao rompimento. Parte dos tucanos quis aguardar o resultado do julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que livrou o peemedebista da cassação, e uma reunião do diretório nacional será realizada nesta segunda-feira 12, em Brasília.

“Nós não estamos diante de uma bifurcação, nós estamos diante de um único caminho: a saída do governo. Ficar é ser incoerente, é andar na contramão da história. A maioria da população brasileira não aprova esse governo e não aprova as práticas desse governo”, disse Bezerra Jr.

O tucano ainda criticou pontos da reforma trabalhista proposta por Temer, disse que urgente no País é a reforma política e sugeriu que o governo resgate um projeto do então senador Fernando Henrique Cardoso sobre taxação de grandes fortunas.

CartaCapital: O senhor é a favor do desembarque do PSDB do governo Temer?

Calos Bezerra Jr.: Eu sempre defendi que o PSDB jamais participasse desse governo. Ajudar o Brasil em reformas e iniciativas que possam vir a dinamizar a economia e mitigar problemas sociais graves é uma coisa. Esse deve ser o compromisso do PSDB. Mas participar desse governo nunca fez sentido para mim.

Não existe dúvida quando há evidências. Ficar no governo Temer, mesmo com a absolvição da chapa no julgamento do TSE, é dar abraço de afogado. Esse governo vem nadando em um mar de escândalos desde que assumiu. Seis ministros tiveram que deixar o governo depois de terem os nomes envolvidos em denúncias de corrupção.

Não espero que a absolvição dê algum crédito a esse governo. Ao contrário, ele não se sustenta mais e sequer poderá comemorar esse resultado. Não acredito que seja o TSE a influenciar na decisão do partido, mas sim a sanidade que nos resta. 

CC: Qual deve ser a decisão do partido? 

CBJ: Há um claro posicionamento da militância de base do partido e da nova geração de parlamentares na direção do desembarque. A reunião do diretório estadual [no último dia 5] deixou claro que a maioria do partido é contrária à permanência nesse governo.

CC: Nessa reunião, o prefeito de São Paulo, João Doria, disse ser contra o rompimento do PSDB com o governo porque, para ele, “o inimigo é o PT”. Como essa declaração foi recebida no partido?

CBJ: Era uma reunião do diretório na qual estavam presentes parlamentares, prefeitos, membros do partido. Todos nós estávamos nessa reunião como militantes, todos falávamos como militantes. Em um espaço democrático como é o diretório, cada um, como militante, expressa a sua opinião. Então ele expressou a opinião dele, democraticamente, eu expressei a minha, contrária, democraticamente.

O que foi definido é que o presidente estadual do partido, Pedro Tobias, vai levar ao encontro da executiva nacional [nesta segunda-feira 12] a decisão da maioria do diretório estadual, que é pelo rompimento com o governo.

Nós não estamos diante de uma bifurcação, nós estamos diante de um único caminho: a saída do governo. Ficar é ser incoerente, é andar na contramão da história. O que esperam de nós neste momento é uma decisão em sintonia com o desejo da maioria da população brasileira. E a maioria da população brasileira não aprova esse governo e não aprova as práticas desse governo.

Eu não acredito que um partido com a história que o PSDB tem vai querer ser lembrado como aquele que apoiou um presidente investigado por corrupção passiva, obstrução a investigação e participação em organização criminosa. E, ainda, como aquele que apoiou um governo que até aqui se prestou a servir aos empresários e dá as costas para o trabalhador.

CC: O senhor falou em coerência. Existe uma movimentação para antecipar a eleição da presidência nacional após os escândalos envolvendo o atual presidente, senador Aécio Neves?

CBJ: Existe um movimento nesse sentido, e o PSDB tem que ser coerente. O PSDB deve sair do governo e, com relação ao próprio partido, nós devemos cortar na carne, até para nos distinguirmos do PT. O PT tem tido por prática o acobertamento dos malfeitos de suas lideranças, e este é um momento em que nós devemos, inclusive nesse aspecto, nos distinguir do PT. 

Onde impera a impunidade, entra em vigor a criminalidade. Confirmadas as denúncias contra o presidente nacional, ele deve ser levado à Comissão de Ética e deve ser feito o pedido de expulsão.

CC: Existe a avaliação de que a incerteza sobre o período pós-Temer é o que o segura no cargo. Qual seria a melhor saída, na sua opinião? 

CBJ: O cenário pode ser do impeachment, da eleição direta, da eleição indireta. Eu sou da opinião de que, por tudo o que esse governo já fez e já mostrou até aqui, a melhor coisa seria o presidente Michel Temer ter um gesto de grandeza e renunciar, pelo bem do País.

CC: Há consenso no PSDB sobre uma eventual indicação de Tasso Jereissati para concorrer nas eleições?

CBJ: O PSDB é um partido que tem vários nomes. Na possibilidade de uma eleição indireta, temos vários líderes que podem ser cogitados, trabalhados. O Tasso é um deles, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é outro, há vários outros. Mas esta é uma discussão a ser feita no momento oportuno.

CC: O senhor disse ser a favor de reformas que deem fôlego para a economia, mas criticou a relação que o governo Temer mantém com o mercado e a forma como trata o trabalhador. Qual é a sua posição a respeito das reformas trabalhista e da Previdência?

CBJ: Nós não podemos esquecer, e eu venho cobrando o meu partido, que a cúpula do PSDB decidiu apoiar o governo Temer a partir de uma carta-compromisso que tinha pelo menos 15 itens. O primeiro item era uma proposta de enfrentamento à crise política, que é a mais grave que nós temos, por meio de uma reforma política com a proposta do parlamentarismo.

Mas a partir do momento em que o partido entrou no governo, a reforma política saiu da pauta. A reforma política é mãe de todas reformas, mas então sai a reforma política de cena e entram duas outras reformas que não estavam pactuadas e que, inclusive, têm sido feitas e propostas com pouquíssimo diálogo com a sociedade e com as entidades representativas dos trabalhadores.

Como é que a gente vai falar de reforma da Previdência sem falar da dívida de 2 bilhões de reais da JBS com a Previdência? Como é que a gente pode falar nessa reforma trabalhista? Há vários pontos positivos na reforma trabalhista, como a não obrigatoriedade da contribuição sindical, mas há uma série de outros pontos que precisam ser debatidos. Por exemplo, retirar o papel do Estado na mediação entre empregadores e empregados representa um risco para o trabalhador. Isso foi construído com o discurso de que “precisamos avançar”, quando na verdade temos na mesa de negociação forças desiguais, e uma delas, a mais fraca, pode ficar à própria sorte.

Antes de falar nessas reformas nós deveríamos discutir, por exemplo, um projeto do então senador Fernando Henrique Cardoso sobre taxação das grandes fortunas.

CC: O senhor disse que as reformas trabalhista e da Previdência não foram pactuadas com o governo. O senhor quis dizer que não havia consenso dentro do PSDB?

CBJ: Não havia consenso. Havia consenso sobre a reforma política, porque o PSDB é um partido parlamentarista. Nós sabemos que a crise pela qual nós passamos não é só uma crise econômica, é também uma crise moral, de valores, que tem no seu cerne a crise política. Responder a essa crise impõe a necessidade de uma profunda reforma política que, inclusive, passa pelo sistema de governo, porque o nosso presidencialismo é uma fábrica de crises.

Mas não se discute que isso estava acordado e assinado na carta-compromisso. A carta também fala de garantias para gastos sociais e, de repente, esse governo propõe uma PEC que congela gastos sociais [por 20 anos], rasgando a carta-compromisso. Ou seja, não é o PSDB que está rompendo ou que precisa romper, é esse governo que rompeu há muito tempo com o compromisso firmado na entrada do partido no governo. 

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