Política

Indecisos e infiéis: quem são os eleitores em disputa

A disputa não é só por órfãos de Lula, mas pelos descrentes com a política e por eleitores pragmáticos

Sem Lula, brancos, nulos e indecisos somam até 38%, segundo pesquisa do Ibope
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As primeiras sondagens eleitorais deste ano já apontavam para uma expressiva massa de eleitores que estava, senão desanimada com as eleições, desconfiada com os rumos das campanhas, indecisa sobre como se comportar em uma eleição pós-impeachment, ou descrente e afeita a se abster do voto.

Segundo a pesquisa do Ibope para a disputa presidencial feita após o registro oficial das candidaturas, os alienados eleitorais – brancos, nulos e indecisos –  somam 38% quando o ex-presidente Lula está fora da disputa. Para o DataFolha, neste mesmo cenário, os “sem candidatos” compõem 28%.

O impasse sobre a candidatura de Lula – condenado em segunda instância pela TRF4 no caso do tríplex do Guarujá e preso em Curitiba desde abril – é, para o cientista político Vitor Marchetti, o principal elemento para entender a maneira como o eleitorado manifesta seu comportamento neste momento da campanha.

Quando Lula aparece como candidato oficial do PT, brancos, nulos e indecisos se aproximam mais das médias históricas das abstenções. No DataFolha somam 14%, e no Ibope 22%.

“Quando o Lula sai do jogo, tem uma parte do eleitorado que se reposiciona de cara para outros candidatos, como é o caso da Mariana (Silva, da Rede) e mesmo do (Fernando) Haddad (do PT). Mas a verdade é que o Lula tem um eleitorado muito fiel, e que não vê alternativas sem ele. Esse eleitor é o desafio essencial do Haddad”, afirma Marchetti.

Leia também: O que as pesquisas indicam sobre a transferência de votos de Lula?

É o caso do fotógrafo pernambucano Brian Dias, de 23 anos, que pretende anular o voto caso a Justiça barre a candidatura de Lula. “Não é preciso ser nenhum PHD em ciência política para saber que ele foi o presidente que mais fez pelos pobres. Nenhuma outra candidatura me convence de que vai lutar pelas causas sociais.”

Ainda assim, o fotógrafo tampouco está convicto de que irá se abster no dia 7 de outubro. “Se o Lula apoiar um outro candidato eu vou avaliar.”

Essa indecisão poderá se arrefecer a partir do início da propagando eleitoral na TV, nesta sexta-feira 31. Caso a candidatura de Lula seja efetivamente barrada, e Fernando Haddad seja enfim alçado a cabeça de chapa, o PT terá 2 minutos e 23 segundos para informar e convencer o eleitorado órfão de que o ex-prefeito de São Paulo é a alternativa.

A ideia de que a propaganda eleitoral pode virar o jogo é a principal aposta do tucano Geraldo Alckmin, que a partir da aliança com o chamado centrão conseguiu 5 minutos e 32 segundos do tempo de televisão. Nos cenários com e sem Lula, Alckmin oscila muito pouco – entre 4% e 7%.

Para o cientista político as pesquisas eleitorais – e depois a própria votação – feitas após a propaganda política na TV deverão indicar qual é ainda o papel da propaganda eleitoral nas eleições, posto que o candidato mais bem colocado depois de Lula é Jair Bolsonaro, do PSL, e que terá apenas 8 segundos.

“A eleição está pendendo para a polarização, e o Lula é um candidato e um cabo eleitoral forte. Acredito que hoje a disputa está mais entre qual será o candidato da direita a ir pro segundo turno. A propaganda em TV tem seu papel, e o potencial mais forte dela é de criar o clima de eleição do que exatamente vender um candidato. Esse ano temos um candidato forte e sem tempo de TV. É um fato novo.”

A empresária mineira, Emeline Moreira, 58 anos, afirma que até as eleições de 2014 votava em candidatos tucanos. Hoje, afirma, sua indecisão está no limite de votar em quem for necessário para que Bolsonaro não vença as eleições. “Posso até votar na esquerda, se for preciso.”

Não são só os descrentes com a política e os órfãos de Lula que deverão ser disputados pelos candidatos. O levantamento feito pelo Instituto MDA a pedido da Confederação Nacional dos Transportes perguntou aos eleitores que declararam voto em um candidato se essa era uma escolha definitiva e ou se o eleitor ainda poderia mudar de opção.

Com exceção de Lula e Bolsonaro, cujo o eleitor é mais fiel ao candidato, entre 60% e 67% do eleitorado de todos os demais candidatos podem mudar de ideia até outubro.

Para Marchetti esse dado indica a tendência de um intenso voto útil nestas eleições. “O eleitor está indicando que ele pode reposicionar o voto dele mesmo antes do segundo turno. Que poderá abrir mão da sua preferência em função das condições da disputa. Numa eleição mais uma vez com tendência a polarização, os centristas podem migrar. Candidaturas como a de Marina Silva, por exemplo, que funciona como uma espécie de terceira via, deve sofrer.”

É assim que parece se comportar Santiago de Oliveira Pacheco, 33 anos. Sua primeira opção é por Guilherme Boulos, do PSOL, mas caso a disputa no primeiro turno permaneça apertada, ele poderá mudar o voto. “Votaria em qualquer um do campo progressista no segundo turno, mas se tiver o risco de não ir ninguém, vou abrir mão do voto ideológico.”

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