Política

Joe Biden reage à pressão para abandonar campanha presidencial nos EUA

O The New York Times, jornal mais influente dos Estados Unidos, publicou texto apoiando que Biden deve ceder o lugar a um democrata mais bem preparado

Foto: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP
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Cresce a pressão para Joe Biden abandonar a campanha à reeleição na Casa Branca, depois do desempenho desastroso do presidente de 81 anos no debate com o rival republicano Donald Trump, na última quinta-feira (27).

Em comício nesta sexta-feira na Carolina do Norte, Biden, tentou retificar o fiasco de sua performance no debate contra o rival republicano. Com um discurso mais enérgico, ele insistiu que era o homem certo para vencer as eleições presidenciais de novembro.

“Eu não caminho com tanta facilidade como antes. Eu não falo tão fluentemente como antes. Eu não debato tão bem quanto antes,” admitiu Biden a seus apoiadores em comentários inusitadamente confessionais. “Mas eu sei como dizer a verdade. Eu sei como fazer este trabalho”, disse ele sob aplausos vibrantes, prometendo: “Quando você é derrubado, você se levanta”.

A equipe de Biden estava em modo de controle de danos após o debate de quinta-feira, quando ele muitas vezes hesitou, tropeçou nas palavras e perdeu o fio da meada, exacerbando os temores sobre sua capacidade física e intelectual de cumprir outro mandato.

Ele esperava acalmar as preocupações sobre sua idade avançada e expor Trump como um mentiroso habitual. Mas o presidente falhou em contra-atacar seu rival polêmico, que entregou uma série ininterrupta de declarações falsas ou enganosas sobre todos os assuntos, desde a economia até a imigração.

Aplausos

Nesta sexta-feira, Biden preferiu as palavras que os democratas gostariam de ter ouvido no debate televisionado. “Vocês viram o Trump ontem (quinta) à noite? Meu palpite é que ele estabeleceu um novo recorde para a maioria das mentiras contadas em um único debate,” criticou o líder da Casa Branca.

“Donald Trump é uma ameaça genuína para esta nação. Ele é uma ameaça à nossa liberdade. Ele é uma ameaça à nossa democracia. Ele é literalmente uma ameaça para tudo o que os Estados Unidos representam”, realçou Biden.

Trump também retornou à campanha nesta sexta-feira, falando em um comício na Virgínia e lançando seus habituais ataques a Biden em um discurso divagante.

O problema “não é a idade dele, é a competência”, disse Trump. “A pergunta que cada eleitor deve fazer a si mesmo hoje não é se Joe Biden pode sobreviver a um desempenho em um debate de 90 minutos, mas se os Estados Unidos podem sobreviver a mais quatro anos do corrupto Joe Biden”, acusou o magnata.

Um novo candidato democrata?

Trump abordou as chances de Biden ser substituído por outro candidato. “Eu realmente não acredito nisso porque ele se sai melhor nas pesquisas do que qualquer um dos outros democratas”, admitiu o republicano.

Até agora, nenhum nome de peso do Partido Democrata defendeu publicamente que Biden abandone a disputa presidencial, com a maioria seguindo a linha de manter a chapa existente.

“Eu nunca vou virar as costas para o presidente Biden”, disse o governador da Califórnia, Gavin Newsom, que tem figurado proeminentemente em listas de possíveis candidatos substitutos, imediatamente após o debate.

Forçar uma mudança na chapa seria politicamente complicado, e Biden teria que decidir abandonar a disputa para abrir caminho para outro candidato antes da convenção do partido no próximo mês.

Biden venceu esmagadoramente as primárias, e os 3.900 delegados do partido que se dirigem à convenção em Chicago estão comprometidos com ele. Se ele sair, os delegados teriam que encontrar um substituto.

“Noites ruins de debate acontecem,” escreveu o ex-presidente democrata Barack Obama, na rede X. Mas a eleição é “ainda uma escolha entre alguém que lutou pelo povo comum toda a sua vida e alguém que só se importa consigo mesmo”, acrescentou.

NYT pede a Biden que desista

A demonstração de lealdade dos democratas e o discurso desafiador de Biden não convenceram o The New York Times. O jornal criticou a equipe de campanha de Biden por uma “aposta inconsequente” diante da ameaça representada por Trump. O conselho editorial do veículo, que é separado da redação, pediu ao presidente que desista da disputa.

“O maior serviço público que o senhor Biden pode fazer agora é anunciar que não continuará se candidatando à reeleição”, escreveu.

E se Biden jogar a toalha?

Se Biden decidisse desistir, o processo para substituí-lo seria técnico. O presidente já foi nomeado candidato presidencial democrata em uma série de primárias realizadas entre janeiro e junho. Portanto, teoricamente, ele deverá ser oficializado na convenção do partido em Chicago.

Caso o atual presidente abandonasse a corrida antes desta convenção, prevista para meados de agosto, a palavra final caberia aos delegados do partido, 3.900 pessoas com perfis muito variados. A maioria delas é desconhecida do público.

Seria então uma “convenção onde tudo é permitido”, já que cada lado tentaria promover seu candidato, prevê Elaine Kamarck, pesquisadora do Brookings Institute, em uma nota recente.

Um cenário mais ou menos similar ocorreu para os democratas em 31 de março de 1968, quando o presidente Lyndon B. Johnson anunciou publicamente que não buscaria um segundo mandato durante a guerra do Vietnã.

E se Biden desistisse entre a convenção e as eleições? O “comitê nacional” do partido realizaria uma sessão extraordinária para nomear o candidato.

Outros nomes

Biden designou a vice-presidente Kamala Harris para fazer campanha com ele, mas não há nenhuma regra que determine que o companheiro de chapa substitua automaticamente o titular.

Ainda na quinta-feira, Harris reconheceu que Joe Biden foi “lento no começo”, mas “terminou forte”. Em nenhum momento ela mencionou a possibilidade de substituí-lo.

Harris, a primeira mulher e primeira vice-presidente afro-americana, poderia ter rivais entre a nova geração do partido. Como o governador da Califórnia, Gavin Newsom, que tem apoio entre os democratas. No entanto, Newsom considerou que estas “conversas” “não são boas” para a democracia. Também são cogitados os nomes da governadora de Michigan, Gretchen Whitmer, e do governador da Pensilvânia, Josh Shapiro. Um segundo debate está programado para 10 de setembro.

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