Política

Lava Jato: saiba quem são os alvos da PF

Na sétima fase da operação, a Justiça decretou a prisão de outro ex-diretor da Petrobras e de executivos de algumas das maiores empresas do País, entre eles dois presidentes de empreiteiras

Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, em depoimento na CPI da Petrobras: ele é um dos delatores do esquema
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A sétima fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta sexta-feira 14 pela Polícia Federal, teve como foco a prisão de executivos e de pessoas ligadas a grandes empreiteiras que faziam negócios com a Petrobras. Como mostram documentos obtidos por CartaCapital, além de empresários como José Aldemário Pinheiro Filho, presidente da OAS, e Dalton dos Santos Avancini, diretor-presidente da Camargo Corrêa, eram alvo também Renato de Souza Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, suspeito de usar o cargo para assinar contratos com as empreiteiras e repassar parte do dinheiro para um esquema que alimentaria partidos governistas, como PT, PMDB e PP, e Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, suposto operador do PMDB no esquema.

A ação desta sexta-feira decorre da análise de material apreendido e de depoimentos colhidos em fases anteriores da Lava Jato e foi deflagrada após tentativas frustradas de acordo entre as empreiteiras e o Ministério Público Federal. Nas últimas semanas, a negociação entre as empresas, procuradores e delegados da Polícia Federal não prosperou e os investigadores decidiram que o único caminho seria a deflagração da nova fase. A única empresa que optou por assinar o acordo foi a Toyo Setal e dois executivos ligados a ela, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto e Julio Camargo. Mendonça e Camargo detalharam à PF como se dava os acordos entre as empresas integrantes do suposto cartel e contou quem era o representante de cada uma delas dentro das tratativas.

A Operação Lava Jato investiga um esquema de corrupção envolvendo políticos, empreiteiras e empresas públicas, em especial a estatal Petrobras. Segundo a PF, os grupos investigados na Lava Jato registraram, segundo dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), operações financeiras atípicas num montante que supera os 10 bilhões de reais. De acordo com declarações atribuídas a Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras que assinou um acordo de delação premiada com a Justiça, Renato Duque, demitido da estatal na mesma data que Costa, era um dos diretores da estatal que repassava dinheiro desviado para o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Uma cunhada do tesoureiro do PT também foi alvo da operação de hoje. Marice Correa de Lima foi levada a sede da Polícia Federal de forma coercitiva para prestar esclarecimentos sobre sua relação com a empreiteira OAS de quem, segundo o MPF, ela recebeu grandes quantias em dinheiro.

Foram alvos de busca e apreensões as empreiteiras Camargo Correa, Mendes Júnior, UTC/Constran, Odebrecht, Iesa, Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, OAS e Engevix.

Confira abaixo a lista de pessoas e empreiteiras alvo da operação nesta sexta-feira, além de Renato Duque e “Fernando Baiano”:

– Adarico Negromonte Filho (prisão temporária)
Irmão do ex-ministro das Cidades Mario Negromonte (PP), Adarico era encarregado de levar dinheiro em espécie para Alberto Youssef

Jayme Alves de Oliveira Filho (prisão temporária)
Agente da Polícia Federal lotado em um aeroporto do Rio de Janeiro, usava o cargo para embarcar valores em espécie para Alberto Youssef

Carlos Alberto da Costa Silva (prisão temporária)
O advogado teria ameaçado a contadora de Alberto Youssef, Meire Pozza, para que ela aceitasse o “patrocínio” de um escritório contratado pelo pool de empreiteiras

Marice Correa de Lima (intimação e condução coercitiva)
Cunhada do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, é apontada pelo MPF como “coordenadora administrativa do PT” e “figura conhecida da época do mensalão”. Segundo o MPF, Marice era responsável pelo esquema junto à OAS

A seguir, confira os envolvidos ligados diretamente às empreiteiras:

1 – CAMARGO CORRÊA

Os executivos da empresa são suspeitos de crime contra licitações, formação de cartel, corrupção ativa e passiva, peculato e lavagem de dinheiro. De acordo com o Ministério Público Federal, a Camargo Corrêa participou da formação de cartel em contratações da Petrobras e atuou de forma a desviar dinheiro público de obras da estatal para a organização criminosa chefiada por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, e pelo doleiro Alberto Youssef.

Há irregularidades ligadas à Camargo Corrêa em obras como a reforma e ampliação da Refinaria Getulio Vargas, em Araucária (PR), e na construção da Refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca (PE). Em seu depoimento, Youssef afirmou que seus contatos na construtora eram Eduardo Leite, o Leitoso, Dalton Avancini e João Auler.

– Pedidos de prisão preventiva na Camargo Corrêa

Eduardo Hermelino Leite, vice-presidente
Segundo Youssef, o vice-presidente era um dos seus contatos dentro da construtora. Os investigadores chegaram até o empresário após citações ao nome “Leitoso” em conversas de Youssef interceptadas.

– Pedido de prisão temporária na Camargo Corrêa

Dalton dos Santos Avancini, presidente
Avancini já havia sido preso em Campinas, em 2011, por conta de envolvimento na Operação Sanasa. Era outro contato de Youssef na construtora. Responsável pela assinatura dos contratos da Camargo Correa na refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco.

João Ricardo Auler, presidente do Conselho de Administração
Um de seus funcionários e o próprio Youssef afirmaram que Auler era um dos contatos dentro da construtora.

– Pedido de intimação e condução coercitiva na Camargo Corrêa

Edmundo Trujillo, diretor do Consórcio Nacional Camargo Correa

 

2 – OAS

Segundo o Ministério Público, ao longo das investigações da Lava Jato foi possível encontrar provas da estreita relação entre a construtora e empresas do doleiro Alberto Youssef. Para o MPF, a investigação evidencia contundentes indícios de que a OAS participava do cartel de empreiteiras que distribuíam entre si contratos com órgãos públicos.

– Pedidos de prisão preventiva na OAS

José Ricardo Nogueira Breghirolli
Manteve contato com Youssef via telefone e mensagens. Entre outros pontos, segundo o MPF, foram demonstrados também diversos indícios que corroboram com a tese de que José Ricardo coordenava os repasses de recursos ilícitos provenientes da empresa OAS, através de Youssef e sua rede de funcionários.

Agenor Franklin Magalhães Medeiros, diretor-presidente da Área Internacional
Segundo Alberto Youssef, dentro da OAS ele sempre tratava com Agenor

– Pedido de prisão temporária na OAS

José Aldemário Pinheiro Filho, presidente

Mateus Coutinho de Sá Oliveira
Diz o MPF: “Conversas entre o interlocutor LA e Youssef demonstram a movimentação de quantias de 250 mil reais e 400 mil reais nas quais haveria o intermédio de Mateus”.

Alexandre Portela Barbosa, advogado
Manteve contato com Youssef por mensagens de texto. Diz o MPF sobre Portela: “Nas mensagens trocadas entre Youssef e Portela é possível verificar indícios de que este era o responsável por articular e coordena junto a Youssef o destino de recursos financeiros que deveriam ser transportados de forma oculta para outros países como Peru e Panamá”.

– Pedido de intimação e condução coercitiva na OAS

Pedro Morollo Junior, engenheiro civil

Fernando Augusto Stremel Andrade, engenheiro civil

 

3 – UTC/CONSTRAN

Diz o MPF sobre a participação da empresa: “A representação policial evidencia os contundentes indícios de que as empresas do grupo UTC, incluindo a Constran, participavam de verdadeiro cartel entre grandes empreiteiras, que distribuíram entre si contratos com órgãos públicos mediante pagamento de propina a empregados públicos e desvios de recursos públicos, além de subsequente repasse a partidos políticos por intermédio de operadores paralelos do sistema financeiro, notadamente, no caso, Alberto Youssef”

Pedido de prisão temporária na UTC:

Ricardo Ribeiro Pessoa, diretor superintendente
Ricardo é apontado tanto por Youssef como por Paulo Roberto da Costa como elemento de contato quanto aos atos ilícitos praticados pela UTC/Constran em relação à Petrobras e outras empresas públicas. Foram identificadas 35 mensagens entre Pessoa e Youssef entre 13/09/2013 e 31/12/2013. O executivo também aparece em planilhas apreendidas com Paulo Roberto Costa onde consta a anotação: “já está colaborando, mas vai intensificar + p/ campanha”.

Walmir Pinheiro Santana, responsável pela UTC Participações
Planilha apreendida pela PF apresenta diversos valores em nome de Walmir. Além disso, Walmir teve seu nome registrado em várias visitas ao escritório de Youssef. A PF também flagrou conversas entre o doleiro e Walmir.

Ednaldo Alves da Silva
Segundo a investigação, Ednaldo era a pessoa responsável pelo transporte físico de numerário da UTC para a GFD ( uma das empresas de fachada de Youssef)

 

4 – ODEBRECHT

A empreiteira e a residência de dois de seus executivos foram alvos de busca e apreensão da Polícia Federal. Diz o MPF sobre a construtora: “A representação policial bem evidencia os indícios de que as empresas do Grupo Odebrecht participaram de formação de cartel entre grandes empreiteiras, que distribuíram entre si contratos com órgãos públicos mediante desvio de recursos e posterior repasse a partidos políticos por intermédio de operadores paralelos do sistema financeiro, dentre os quais se encontra Alberto Youssef”.

“Neste passo, Alberto Youssef afirma que os executivos dessas grandes empresas, entre as quais a Odebrecht, se reuniram para formar uma lista de empresas que venceriam os processos licitatórios, cuja nominada era entregue para Paulo Roberto da Costa na iminência da expedição dos convites para o certame”.

– Alvos de pedidos de busca e apreensão na Odebrecht

Marcio Faria da Silva
Segundo Paulo Roberto Costa, Marcio seria seu contato na Odebrecht. Outro delator, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, em depoimento à PF, afirmou ser Marcio Faria o representante da Odebrecht no “clube VIP” que abocanhava principais obras da Petrobras. O executivo da Toyo Setal e também delator Julio Gerin afirmou à PF que Faria foi responsável por efetivar pagamentos a diretores da Petrobras.

Rogério Santos de Araújo
Na agenda de Paulo Roberto Costa apreendida pela PF há citação a Rogério. Em depoimento à Justiça Federal do Paraná, Costa confirmou que Rogério, ao lado de Márcio, era seu contato na Odebrecht.

 

5 – MENDES JÚNIOR

Segundo o MPF, há indícios razoáveis da participação da empreiteira participava da formação de cartel em contratações da Petrobras, além de ser uma das empresas que desviavam recursos da estatal em beneficio da organização criminosa capitaneada por Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef. Diz o MPF: “Há indícios, ainda, quanto aos delitos de peculato e corrupção ativa e passiva em razão de sinais de que valores derivados das contratações da Petrobras com a Mendes Júnior, inclusive da IERP 111 (REPAR) consistiram em vantagem indevida desviada em proveito da organização criminosa com participação de executivos da empresa”. Os investigadores também conseguiram mapear repasses de empresas do grupo Mendes Júnior às empresas de fachada utilizadas por Alberto Youssef para lavagem de dinheiro.

– Pedidos de prisão preventiva na Mendes Júnior

Sergio Cunha Mendes, vice-presidente
Segundo Alberto Youssef, seus contatos na Mendes Júnior eram Sérgio Mendes e Rogério Cunha. Já no material apreendido com Paulo Roberto Costa, a Polícia Federal encontrou uma planilha ma qual consta o nome da empresa seguido da anotação “está disposto a colaborar”. Os investigadores também conseguiram mapear repasses de empresas do grupo Mendes Júnior.

Pedidos de condução coercitiva na Mendes Júnior

Angelo Alves Mendes, vice-presidente

Rogério Cunha de Oliveira, diretor de Óleo e Gás

Flávio Sá Motta Pinheiro, diretor administrativo e financeiro da Mendesprev

 

6 – ENGEVIX

Segundo o MPF, a participação da Engevix no esquema de corrupção foi “expressamente afirmada” por Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef. Além disso, uma série de documentos comprovam o repasse de verba da Engevix para empresas fantasmas de Youssef

– Pedido de prisão preventiva na Engevix

Gerson de Mello Almada, vice-presidente
Foi citado nominalmente por Youssef e Costa como contato do esquema na empresa

– Pedidos de prisão temporária na Engevix

Carlos Eduardo Strauch Albero, diretor técnico
Assinou contratos entre a Engevix e as empresas de Youssef

Newton Prado Júnior, diretor técnico
Assinou contratos com as empresas de Costa e Youssef

– Pedido de intimação e condução coercitiva

Cristiano Kok, presidente
Assinou documentos que ligam a Engevix às empresas de Youssef

Luiz Roberto Pereira, diretor
Solicitou a emissão de ao menos uma das notas fiscais frias repassadas às empresas de Youssef

 

7 – QUEIROZ GALVÃO

A empresa foi citada nominalmente por Youssef e Costa como participante do esquema. Como as outras, a empreiteira repassava dinheiro para o Youssef e Costa por meio da contratação de empresas fantasmas do doleiro e do ex-diretor da Petrobras.

– Pedidos de prisão temporária na Queiroz Galvão

Ildelfonso Colares Filho, diretor presidente
Foi citado por Costa como contato na empresa e seu nome aparecia em documentos de Costa apreendidos pela PF

Othon Zanoide de Moraes Filho, presidente da Vital Engenharia, ligada à Queiroz Galvão
Foi mencionado diretamente por Youssef e Costa como integrante do esquema

 

8 – IESA ÓLEO & GÁS

A PF e o MPF afirmam que havia um “intenso relacionamento” entre o grupo comandado por Alberto Youssef e a empresa. A Iesa, segundo os investigadores, foi citada nominalmente por Paulo Roberto Costa, assim como Valdir Carreiro, diretor presidente da companhia, e aparece repetidas vezes em tabelas apreendidas com Alberto Youssef. A relação da Iesa com o cartel se dava, afirma o MPF, por meio do Consórcio CII, que incluía também a Queiroz Galvão.

Pedidos de prisão temporária na Iesa Óleo & Gás

Valdir Lima Carreiro, diretor presidente
Subscreveu o contrato assinado com empresa de Paulo Roberto Costa que tratava sobre o repasse de valores ilícitos. Seu nome aparece como contato de Costa em diversos documentos apreendidos, inclusive em planilha que listava executivos envolvidos no esquema. Carreiro foi citado também por Augusto Ribeiro de Mendonça Neto

Otto Garrido Sparenberg, diretor de Operações
Subscreveu o contrato assinado com empresa de Paulo Roberto Costa que tratava sobre o repasse de valores ilícitos. Seu nome aparece como contato de Costa em diversos documentos apreendidos

 

9 – GALVÃO ENGENHARIA

A PF e o MPF identificaram vários repasses da Galvão Engenharia para empresas de fachada que serviam ao esquema de desvio de dinheiro. A construtora, dizem os investigadores, também integrava o cartel que acertava licitações previamente

– Pedido de prisão preventiva na Galvão Engenharia

Erton Medeiros Fonseca, diretor presidente de Engenharia Industrial
Além de citado nominalmente por Paulo Roberto Costa, seu carimbo e assinatura aparecem em notas fiscais emitidas pela Galvão Engenharia para empresas de fachada do esquema de Paulo Roberto Costa.

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