Mauro Cid, braço direito de Bolsonaro, chega à PF para prestar depoimento

O tenente-coronel é suspeito de organizar e operar um esquema de fraude de dados sobre vacinas, a incluir os cartões de Bolsonaro e de sua filha

Jair Bolsonaro e Mauro Cid. Foto: Secom

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O tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), chegou à sede da Polícia Federal para prestar um depoimento na tarde desta quinta-feira 18. Há duas semanas, ele foi preso acusado de participar de um esquema de falsificação de dados de cartões de vacinação no sistema do Ministério da Saúde.

Cid é suspeito de organizar e operar as alterações, a incluírem os cartões de Bolsonaro e de sua filha Laura. A oitiva, porém, não deve se limitar a perguntas sobre a fraude. É esperado que a PF questione o militar a respeito do plano de golpe traçado em conversas com outros aliados de Bolsonaro.

A trama foi encaminhada ao ajudante de ordens por Ailton Barros, ex-major do Exército preso há duas semanas, e contou com a participação de Élcio Franco, coronel que auxiliava Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde.

Bolsonaro, por sua vez, admitiu em depoimento à Polícia Federal na última terça-feira 16 que Cid administrava sua conta no aplicativo ConecteSUS. Ele alegou, porém, não saber quem controlava o acesso à conta de sua filha Laura. Na oitiva, o ex-capitão disse não ter ordenado a inserção de dados falsos sobre vacinas no sistema.

“INDAGADO se solicitou a MAURO CESAR CID que acessasse o aplicativo ConecteSUS e emitisse o certificado com dados falsos de vacinação contra a Covid-19 em nome do declarante, respondeu QUE não”, diz um trecho da transcrição do depoimento. Bolsonaro também declarou que se Cid arquitetou o esquema, isso ocorreu “à revelia”, mas disse não acreditar no protagonismo do militar na fraude.

Informado de que o IP utilizado para acessar o ConecteSUS e emitir o certificado falso pertence à Presidência da República e foi cadastrado no Palácio do Planalto, Bolsonaro disse não saber quem teria acessado o aplicativo.


A enfermeira Cláudia Helena Acosta Rodrigues da Silva, chefe da Central de Vacinação de Duque de Caxias (RJ), afirmou em depoimento à PF ter emprestado sua senha para o secretário de Governo da cidade, João Brecha, apagar os registros de vacinação do ex-presidente dias depois da emissão.

Silva disse ter compartilhado sua senha por não ver “qualquer má-fé” no pedido do secretário e acreditar que a mudança nos dados seria “idônea”.

A informação inserida no sistema em 21 de dezembro de 2022 é de que Bolsonaro teria tomado duas doses de vacina (em agosto e em outubro). Em 22 de dezembro, um certificado de vacinação do ex-capitão foi emitido dentro do Palácio do Planalto. Cinco dias depois, após uma nova emissão, o usuário em nome da servidora apagou o registro do sistema, sob a justificativa de um “erro”.

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