O tenente-coronel Mauro Cid, principal ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), disse à Polícia Federal não acreditar em golpe para manter o antigo chefe no poder após a derrota eleitoral. A declaração consta em um trecho do longo depoimento do militar, prestado nesta sexta-feira 30, e revelado pela TV Globo.
A afirmação feito por Cid aos investigadores contrasta bastante com as conversas apreendidas em seu celular. Nas mensagens, há um passo a passo para romper com a democracia que incluía elementos jurídicos para amparar os golpistas.
Ele também debateu com outros militares a necessidade de ruptura. Em uma mensagem, chegou a lamentar o fato de Bolsonaro não ter dado a ordem para o golpe. Na ocasião, disse ao coronel Jean Lawand Junior, principal interlocutor da trama, que o plano não teria sido colocado em prática por falta de confiança do ex-capitão no Alto Comando do Exército.
Essa foi a primeira vez que Cid tratou do assunto, já que no primeiro depoimento à PF sobre o caso, ele optou por ficar em silêncio. Dessa vez, foram 4 horas de oitiva em que, segundo o site G1, o militar respondeu apenas parte das perguntas feitas. A defesa do tenente-coronel disse que não irá fazer complementos ou esclarecimentos sobre o depoimento e só se manifestará no processo.
Apesar da afirmação de Cid, as conclusões da PF até aqui indicam que a linha alegada pelo tenente-coronel é fraca. Ao STF a corporação declarou que as mensagens do celular do ajudante de ordens de Bolsonaro confirmam a “hipótese criminal relacionado a participação dos investigados na tentativa de execução de um golpe de Estado”. A avaliação entregue ao tribunal também aponta a ligação entre os planos e os atos de terrorismo no 8 de Janeiro.
Ao G1, investigadores envolvidos no depoimento minimizaram as declarações de Mauro Cid. A reportagem registra que os agentes avaliaram que “há contradições com as provas reunidas até o momento”.
Prisão de Cid
Cid está preso desde o início de maio, acusado de participar de um esquema de falsificação de dados de cartões de vacinação no sistema do Ministério da Saúde. Ele é suspeito de organizar e operar as alterações, a incluírem os cartões de Bolsonaro e de sua filha Laura. O depoimento desta sexta, porém, teve como foco os atos golpistas e mensagens encontradas no celular do auxiliar do ex-capitão.
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