Medo toma conta de minorias e militantes no Brasil, diz jornal francês

Periódico elenca os que estariam na mira de Bolsonaro: negros, índios, feministas, militantes de esquerda, o mundo da cultura e jornalistas

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Um mês depois da posse de Jair Bolsonaro, o jornal francês La Croix desta sexta-feira 1 questiona a situação das minorias e militantes no país. O periódico é um dos mais antigos e tradicionais veículos de comunicação da França e tem ligação com a Igreja Católica.

A reportagem do jornal visitou uma academia de defesa pessoal na Lapa, no centro do Rio de Janeiro. No local, uma associação sem fins lucrativos oferece cursos de kravmaga, método de autodefesa israelense, para mulheres e para a comunidade LGBT há três anos.

“A demanda explodiu desde a eleição de Bolsonaro, homofóbico assumido, em outubro de 2018”, conta o jornal, explicando que o Brasil é o país onde mais se matam pessoas LGBT no mundo. Foram 420 assassinatos em 2018. “Temos medo que as coisas piorem, estou muito preocupado”, disse Hugo, que segue o curso há dois anos.

Reprodução do jornal francês La Croix

A reportagem cita também o caso do deputado Jean Wyllys, único representante LGBT do Congresso em Brasília, que renunciou ao terceiro mandato e optou pelo exílio, após ameaças de morte. Wyllys, de 44 anos, vivia sob escolta policial desde o assassinato, em março, da vereadora Marielle Franco.


Clima de medo

“Um mês apenas após a posse de Jair Bolsonaro, o exílio do deputado é sintomático de um clima de medo que se espalhou além da comunidade LGBT, para outros setores da sociedade visados por ataques do presidente desde a campanha”, analisa La Croix. Entre os alvos, diz o jornal, estão: negros, índios, feministas, militantes de esquerda, o mundo da cultura, jornalistas, professores e militantes ambientalistas e de direitos humanos.


Segundo La Croix, os ataques do presidente, que pretende governar “para a maioria” e contra esses grupos, liberam os discursos e comportamentos violentos. O diário católico explica que, desde janeiro, seis territórios indígenas protegidos foram invadidos e que uma comunidade foi atacada a tiros, citando informações do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ligado à Igreja católica. “As primeiras medidas do governo Bolsonaro serviram para incitar esse tipo de ações”, acusa o Cimi em seu site.

Armas pioram tensão

“O clima ficou ainda mais tenso com a assinatura do decreto de 15 de janeiro que liberaliza a posse de armas em casa para os brasileiros de mais de 25 anos”, diz La Croix. O jornal francês cita ainda os alertas do Instituto Sou da Paz: “os estudos mostram que, quanto mais armas em circulação, mais a violência letal aumenta. E essa violência vai atingir os grupos que já são atacados, como os negros, mulheres e a população LGBT”.

A Anistia Internacional também é citada pela reportagem pelo grito de alerta, no último dia 25 de janeiro, a respeito de “um cenário de alto risco que surge” contra minorias e organizações da sociedade civil no Brasil.

 

 

 

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