Mensagens sugerem imprudência do GSI nos atos golpistas em Brasília

O órgão percebia um clima de 'normalidade' a dois dias das ações de terrorismo, conforme diálogos revelados pela Veja

Atos golpistas em 8 de janeiro, em Brasília. Foto: Sergio Lima/AFP

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Uma sequência de mensagens obtidas pela revista Veja e publicadas nesta sexta-feira 20 indicam que o Gabinete de Segurança Institucional não dimensionou com precisão a organização dos atos golpistas que levariam, em 8 de janeiro, à depredação do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal.

Dois dias antes da invasão, em 6 de janeiro, representantes da segurança do governo federal, da gestão do Distrito Federal, do Congresso e do STF discutiram um plano para o protesto.

Embora extremistas de direita anunciassem atos violentos e um grande deslocamento de veículos a Brasília, o GSI afirmou em mensagem ao Comando Militar do Planalto que a situação era de “normalidade” e que não havia necessidade de reforçar a segurança do palácio.

No fim da tarde de sexta, o coronel André Garcia, coordenador de segurança do GSI, enviou uma breve comunicação ao CMP, a afirmar que “o pelotão de Choque pode ser liberado da prontidão”. Significa que o pelotão pronto para ser acionado em caso de necessidade foi desmobilizado.

No sábado 7, um relatório da Agência Brasileira de Inteligência, subordinada ao GSI, alertou sobre o risco iminente de ataques e “tentativas de ocupações de prédios públicos”, o que contrasta com a sensação de “normalidade” indicada na véspera. Mesmo assim, não houve pedido de reforço ou qualquer outra mensagem no grupo monitorado pela revista até o domingo.

Apenas às 11h54 do fatídico dia, o GSI enviou uma mensagem ao CMP solicitando o apoio de um pelotão de choque, “haja vista aumento de manifestantes em frente ao CN [Congresso Nacional]”. 35 homens chegaram ao Planalto por volta das 13h. Às 15h30, começaram a invasão e a depredação.


Na segunda 9, o presidente Lula (PT) se reuniu com o ministro da Defesa, José Múcio, com o ministro do GSI, Gonçalves Dias, e com os comandantes militares. Nos dias seguintes, o petista não poupou críticas aos órgãos de segurança diante da violência bolsonarista.

“Nós temos inteligência do GSI, da Abin, do Exército, da Marinha, da Aeronáutica, ou seja, a verdade é que nenhuma dessas inteligências serviu para avisar ao presidente da República que poderia ter acontecido isso”, afirmou Lula na quarta 18, em entrevista à GloboNews.

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