Política

MPF quer arquivar inquérito contra Lula e questiona credibilidade de Delcídio

Para procurador Ivan Marx, ex-senador pode ter citado nome de ex-presidente apenas para se beneficiar de acordo de colaboração

Renan e Lobão negaram a versão de Delcídio de que Lula tentava montar grupo contra a Lava Jato
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O procurador Ivan Cláudio Marx pediu o arquivamento do inquérito sobre uma suposta tentativa de Lula de atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato em articulação com o Senado, baseado nos termos da colaboração premiada de Delcídio do Amaral.

Em sua delação firmada em 2016, o ex-senador Delcídio do Amaral afirmou que Lula tentou embaraçar o trabalho dos investigadores. O ex-parlamentar declarou que Lula o convidou para uma reunião no Instituto Lula com a presença dos senadores Edison Lobão (PMDB-MA) e Renan Calheiros (PMDB-AL), com o suposto objetivo de articular uma ofensiva contra a Lava Jato.

Segundo Delcídio, o objetivo era montar uma espécie de “gabinete da crise” de modo a criar um contraponto às narrativas da mídia e preservar o legado do ex-presidente.

Após as oitivas de Renan e Lobão, o procurador concluiu não “se vislumbrar no discurso de Delcídio a existência de real tentativa de embaraço às investigações da Operação Lava Jato”. Renan negou categoricamente ter discutido a criação do “gabinete da crise”, narrativa referendada por Lobão, que negou ter se reunido com Lula para obstruir a Lava jato.

Para Marx, a versão de que a reunião teria esse objetivo “demonstra uma interpretação unilateral do delator, não confirmado pelos demais participantes”. Segundo o procurador, não se pode esquecer o interesse do delator em encontrar fatos “como forma de aumentar deu poder de barganha ante a Procuradoria-Geral da República no seu acordo de delação”.

O MPF também apresentará em breve suas alegações finais relativas à acusação de Delcídio de que Lula era o “chefe do esquema” para comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, com o suposto objetivo de impedir o executivo de firmar um acordo de colaboração. Segundo Marx, a participação de “lula só surgiu através do relato de Delcídio, não tendo sido confirmada por nenhuma outra testemunha ou corréu no processo”. O procurador foi inclusive o responsável por apresentar uma denúncia contra Lula relativa à acusação envolvendo Cerveró.

Marx afirma não estar adiantando a responsabilidade ou não do ex-presidente na compra do silêncio do ex-diretor da Petrobras, mas lembra o caso com o objetivo de “demonstrar o quanto a citação de seu nome (Lula), ainda que desprovida de provas em determinados casos, pode ter importado para o fechamento do acordo de Delcídio do Amaral, inclusive no que se refere à amplitude dos benefícios recebidos”.

Para Marx, a denúncia sobre a suposta reunião do “gabinete da crise” “era sim do interesse de Delcídio”. Segundo o procurador, a palavra do ex-senador “perde credibilidade”.

Divulgada na íntegra em 15 de março de 2016, a delação de Delcídio foi um dos catalisadores da crise política que resultou no impeachment de Dilma Rousseff. Lula foi nomeado chefe da Casa-Civil no dia seguinte, mas acabou impedido de assumir o cargo por Gilmar Mendes, ministro do STF, após o juiz Sergio Moro divulgar áudios gravados irregularmente nos quais a então presidenta discutia a entrega de um termo de posse ao seu novo ministro.

Leia o pedido de arquivamento do inquérito:

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