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‘Não é possível que não tenha o mínimo de democracia na Venezuela’, diz Lula
Presidente brasileiro diz que propôs a Nicolás Maduro a articulação de um abaixo-assinado com a oposição em defesa da soberania
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) informou que propôs ao homólogo venezuelano, Nicolás Maduro, durante reunião bilateral na segunda-feira 29, a criação de um abaixo-assinado do governo chavista com opositores e lideranças de movimentos sociais em defesa do “respeito” à soberania da Venezuela.
Em coletiva de imprensa no Palácio Itamaraty, o petista fez referência à influência estrangeira nos assuntos domésticos e criticou o reconhecimento de Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela por parte da comunidade internacional. Ele havia sido questionado por jornalistas sobre o uso da palavra “narrativa” ao descrever as acusações de violação de direitos humanos por autoridades na Venezuela.
“Eu disse para o Maduro: você precisa, para provar o que você tá falando, fazer um documento com a assinatura de todos os partidos de oposição, todos os seus opositores, todos os movimentos sociais, todo o movimento sindical, o Parlamento e mais os 23 governadores. Faça um abaixo-assinado e peça respeito à soberania da Venezuela, porque o mundo chegou a eleger um presidente que era uma pessoa que não existia”, relatou.
Na sequência, Lula criticou os bloqueios liderados pelos Estados Unidos, sanções econômicas que dificultam o abastecimento de itens como alimentos, medicamentos e combustíveis.
“[O bloqueio] É uma coisa desumana, que jamais deveria existir. Acho que a Venezuela merece respeito”, declarou.
Em relação à democracia, Lula afirmou que não pode dizer “que não tem nada na Venezuela” e justificou que a sua última visita ao país foi no enterro de Hugo Chávez, em 2013. Além disso, mencionou que o seu último encontro com Maduro havia sido na posse de Dilma Rousseff em 2015.
Lula relembrou que enviou à Venezuela o seu assessor especial para a política externa, Celso Amorim, e que ouviu do diplomata uma descrição de “tranquilidade” no cenário político do país.
“O que o Celso me disse é que nunca viu, desde o tempo em que a gente frequenta a Venezuela, uma tranquilidade, porque ele conversou com a oposição, com empresários, com jornalistas”, afirmou. “Vai ter eleições agora. Não é possível que, de 29 eleições, o cara tenha ganho 27, 25. Não é possível que, de 23 governadores, ele tenha eleito 19. E ele perdeu exatamente na cidade do Chávez. Não é possível que não tenha o mínimo de democracia na Venezuela.”
O presidente brasileiro relembrou ainda críticas que fazia a Chávez sobre um suposto excesso de eleições no país.
“Eu brigava com o Chávez que, qualquer coisa, o Chávez queria fazer um referendo”, disse. “Eu falava: ‘pô, pare de eleição, trabalhe um pouco’. Não dá para ficar só com eleição”.
Lula não descartou a realização de uma visita à Venezuela, mas disse que não prevê uma data de viagem ao país.
A declaração do petista sobre uma “narrativa” contra o governo chavista despertou críticas dos presidentes do Uruguai, Lacalle Pou, e do Chile, Gabriel Boric. A polêmica ocorre porque o governo da Venezuela é acusado por organizações internacionais de cometer “crimes contra a humanidade”.
Segundo a Anistia Internacional, entidade britânica que se declara defensora dos direitos humanos, houve mais de 8,2 mil execuções arbitrárias na Venezuela entre 2016 e 2020. Há, ainda, acusações de prisões arbitrárias e perseguição política. A organização Human Rights Watch, dos Estados Unidos, disse que, em 2022, houve 235 denúncias de violações de direitos humanos na Venezuela, sobre casos relativos à privação de liberdade.
A entidade também credita ao Alto Comissariado das Nações Unidas a informação de recebimento de denúncias de tortura, maus-tratos e detenções irregulares no país durante o ano passado.
Maduro, no entanto, rebate as acusações e diz ser vítima de uma “campanha” articulada pelos Estados Unidos.
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