O golpismo vem do berço

As Forças Armadas se consideram tutoras da República e abominam a Constituição de 1988, diz o historiador Francisco Teixeira

Teixeira, professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, conhece a corporação por dentro - Imagem: Acervo pessoal e Isac Nóbrega/PR

Apoie Siga-nos no

O que no início parecia conivência virou cumplicidade. Passadas quase duas semanas da invasão do Congresso, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal, as digitais de integrantes das Forças Armadas aparecem por todos os lados. O governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, afirmou ter sido impedido por militares de desmontar o acampamento bolsonarista instalado na porta do QG do Exército. Segundo relato do jornal The Washington Post, o comandante da corporação, Júlio César de Arruda, cometeu um ato de insubordinação ao impedir o ministro da Justiça, Flávio Dino, de prender meliantes envolvidos na invasão, enquanto inúmeros detidos em flagrante confessaram à Polícia Federal terem recebido proteção de soldados. Surpresa? Não para Francisco Teixeira, professor de História Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. Nesta entrevista, o pesquisador descreve o modus operandi golpista dos fardados e de como a ideologia da tutela militar está impregnada nos batalhões.

CartaCapital: Como o senhor classifica o envolvimento de militares nos atos golpistas de 8 de janeiro?

Leia essa matéria gratuitamente

Tenha acesso a conteúdos exclusivos, faça parte da newsletter gratuita de CartaCapital, salve suas matérias e artigos favoritos para ler quando quiser e leia esta matéria na integra. Cadastre-se!

Leia também

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

2 comentários

PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 24 de janeiro de 2023 03h22
Silvio Frota fez escola, dele surgiram o general Heleno , Jair Bolsonaro, Braga Neto, Pazuelo , Júlio Cesar Ribeiro, Sérgio Etchengoyen dentre outros. O ensino da AMAN merece uma reforma completa na mentalidade dos seus discentes docentes para que se formem pessoas que saibam que os militares devem cumprir e serem subservientes ás leis e a constituição federal de 1988. Bolsonaro tentou quebrar esse paradigma porque foi um mau soldado, expulso do exército por desonra e ressentido com isso influenciou um exército de ressentidos que imaginavam que a carta magna causa óbice ás suas pretensões autoritárias. É evidente que o vandalismo perpetrado pelos beócios bolsonaristas não teve, somente, a liderança de poucos comerciantes interioranos. Uma investigação mais exauriente por parte das instituições vai levar a personagens do comando da segurança do país, das forças armadas. Os insurgentes bolsonaristas não agiram de sponte própria se não tivessem o respaldo de algumas autoridades militarizadas, não teriam a audácia de depredar a praça dos três poderes em 8 de janeiro de 2023, com tamanha sanha de barbarismo se não houvesse um comando superior, além de Bolsonaro. Tudo leva a crer que Lula, Flávio Dino que falta ele faz nessa revista, José Múcio terão sempre os inimigos próximos e á espreita.
José Carlos Gama 20 de janeiro de 2023 20h56
Concordo com o historiador Francisco Teixeira em genero numero e grau ao prever que mesmo termos cortado o rabo da cobra bolsonarista a cabeça continuará atuando para fincar bandeira na proxima eleiçao. Para a direita tradicional, avida pelo poder a qualquer custo, ficar ao lado de bolsonaristas contra uma esquerda mesclada, não será dificil, pois suas ideologias são proximas em relaçao aos desmonte do estado como já protaconizou em outros momentos de poder como sabemos. Sendo assim, estamos ainda pendente do cliche: se ficar o bixo pega se correr o bicho come.

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

 

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.