Política

O que as pesquisas indicam sobre a transferência de votos de Lula?

Por ora, Haddad registra apenas 4%, mas Datafolha mostra que ele pode chegar a 24%. Marina e Ciro também despontam como possíveis herdeiros

As pesquisas indicam que Haddad deve crescer, mas Marina e Ciro podem herdar votos lulistas
Apoie Siga-nos no

As três pesquisas eleitorais divulgadas desde a segunda-feira 20 indicam que Lula cresceu e está firme na dianteira, ao absorver a preferência de 37% a 39% do eleitorado. Se puder ser candidato, tem potencial até para ganhar no primeiro turno. Como dificilmente a Justiça permitirá a participação do ex-presidente na disputa, os levantamentos apontam dados relevantes sobre o que pode ocorrer com seu eleitorado, ainda bastante indeciso.

Leia também:
Datafolha: 43% das mulheres não votariam ‘de jeito nenhum’ em Bolsonaro
Datafolha: Lula chega a 39%; sem ele, Bolsonaro lidera com 22%

Por enquanto, Fernando Haddad, atual vice de Lula, tem pontuação tímida nas pesquisas. Segundo Ibope e Datafolha, ele possui apenas 4% das intenções de voto em um cenário sem o ex-presidente. O desconhecimento sobre o ex-prefeito de São Paulo, bem como a dificuldade momentânea dos eleitores em identificá-lo como substituto natural de Lula, mostram que há grande margem para o atual vice da chapa petista crescer na disputa.

Segundo a pesquisa Datafolha divulgada nesta quarta-feira 22, Haddad pode chegar a 24% de intenções de voto. Trata-se de uma inferência baseada no número de eleitores de Lula que dizem votar “com certeza” em um nome indicado pelo ex-presidente. Segundo o instituto, 62% dos eleitores lulistas garantem que seguirão a recomendação do petista. Se o dado estiver correto, o ex-prefeito de São Paulo tem potencial para amealhar quase dois terços dos votos do ex-presidente.

Mas para onde iriam os outros 38% do eleitorado de Lula? Uma pergunta feita pelo instituto MDA, que divulgou na segunda-feira 20 sua pesquisa encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), ajuda a explicar. Os eleitores foram questionados em quem votariam caso Lula não possa participar do pleito.

Apesar do desconhecimento do eleitorado do ex-presidente, Haddad foi o mais lembrado: 17,3% disseram que votariam no ex-prefeito. Em seguida, vem Marina Silva, um dado talvez surpreendente para parte da esquerda. Neste momento, a candidata da Rede teria quase 12% dos votos originalmente destinados a Lula. Ciro vem em terceiro, com 9,6%.

Na pesquisa feita pelo Ibope, Marina é um nome forte na ausência de Lula. É a mais citada pelos mais jovens e entre os mais pobres. Já Ciro é o preferido de 14% dos nordestinos no cenário sem o ex-presidente.

Por outro lado, a boa performance de Marina e Ciro como potenciais “herdeiros” dos votos de Lula deve ser confrontada com o desconhecimento do eleitorado do ex-presidente sobre Haddad. Segundo o Datafolha, 48% dos lulistas não conhecem o ex-prefeito e 26% só ouviram falar. O dado mostra o potencial de crescimento do atual vice da chapa petista, que só será apresentado de forma mais consistente aos eleitores a partir do primeiro programa televisivo do partido.

Quando se olha para o conjunto dos eleitores brasileiros, o potencial de transferência de Lula segue forte: 31% afirmam que votariam “com certeza” em um nome indicado por ele, 18% afirmam talvez votar, enquanto 48% rejeitam um nome apoiado pelo ex-presidente. Neste grupo, ainda segundo o Datafolha, Haddad não é conhecido por 41%. Já 59% dizem ter ouvido falar do ex-prefeito.

Não é tudo. Também nesta quarta-feira 22, a Folha de S.Paulo trouxe mais um dado relevante da pesquisa Datafolha: o próprio eleitorado atual de Marina e Ciro mostra-se pouco fiel. Cerca de 40% dos que declaram voto na dupla por enquanto dizem que votariam “com certeza” no candidato apoiado por Lula. Logo, o fato de o ex-presidente indicar Haddad pode desidratar o pedetista e candidata da Rede.

O vice de Lula por enquanto tem 4%, mas tudo indica que poderá chegar aos dois dígitos caso tenha tempo hábil para ser apresentado como substituto. Por outro lado, ainda não é desprezível o número de eleitores do ex-presidente que está disposto a votar em um candidato não petista.

Outro ponto importante é o alto número de eleitores indecisos ou que declaram voto nulo ou branco nos cenários sem Lula. Segundo o Ibope, esses dois grupos somados crescem de 22% do eleitorado para 38% na ausência do ex-presidente. No Datafolha, passam de 14% para 28%.

Com tantas incertezas, ainda não se pode cravar que a estratégia de transferência de votos de Lula para Haddad dará certo. Se mais de 60% migrarem para o ex-prefeito, como sugere o Datafolha, será mais do que suficiente para o PT chegar ao segundo turno. Mas Marina e Ciro, além de brancos, nulos e abstenção, são obstáculos para a tática petista.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar