Política
Os argumentos da PGR para endossar operação da PF contra Carlos Jordy
As buscas e apreensões ocorreram no âmbito da 24ª etapa da Operação Lesa-Pátria
A Procuradoria-Geral da República concordou com uma operação de busca e apreensão a mirar principalmente o deputado federal bolsonarista Carlos Jordy (PL-RJ), líder da Oposição na Câmara. Autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, agentes da Polícia Federal cumpriram as diligências nesta quinta-feira 18.
As buscas ocorreram no âmbito da 24ª etapa da Operação Lesa-Pátria. Esta fase visa identificar mentores intelectuais e responsáveis por planejar, financiar e incitar os atos golpistas de 8 de Janeiro de 2023.
Para o Ministério Público Federal, os elementos obtidos pela PF ao longo da investigação apontam que os alvos integraram, pelo menos, o núcleo de financiadores e instigadores de atos antidemocráticos após a vitória de Lula (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL) em 2022.
A peça foi assinada em 12 de dezembro pelo subprocurador-geral Carlos Frederico Santos, então responsável pela condução dos inquéritos ligados ao 8 de Janeiro. Ele deixou o posto em 18 de dezembro.
Ao concordar com as medidas de busca e apreensão, Santos afirmou ser necessário obter elementos como armas, munições, documentos, anotações, mídias, aparelhos eletrônicos e outros dispositivos de armazenamento de dados. O objetivo seria verificar a possível existência de outros crimes e identificar outros agentes envolvidos nos atos ilegais.
O MPF avaliou, portanto, que as buscas seriam “imprescindíveis, pertinentes e plenamente justificáveis para evitar o desaparecimento de provas e possibilitar o fortalecimento da matriz investigatória e o esclarecimento cabal dos fatos”.
Também saiu em defesa do afastamento de sigilo telemático, inclusive sobre arquivos de texto e imagens em computadores e celulares, “com a finalidade de obtenção da materialidade de delitos”.
O documento da PGR, de 30 páginas, ainda lista as principais descobertas da PF na investigação contra Jordy e os demais alvos da operação desta quinta.
Entre elas, está a identificação de “fortes ligações” entre o deputado bolsonarista e Carlos Victor de Carvalho, vereador suplente na Câmara Municipal de Campos dos Goytacazes (RJ) e servidor da Assembleia Legislativa do Rio. Carvalho seria uma liderança dos movimentos de extrema-direita no município, onde organizaria atos criminosos.
Para a PF, a relação entre Victor e Jordy “transpassa o vínculo político, vindo denotar-se que o parlamentar além de orientar tinha o poder de ordenar as movimentações antidemocráticas, seja pelas redes sociais ou agitando a militância da região”.
“O que esta autoridade policial julga mais grave é que o vínculo entre o parlamentar e o apoiador não seja
apenas para fins políticos partidários, mas também com a intenção de ordenar a prática de crimes contra o Estado de Direito.”
O outro lado
Em vídeo gravado e publicado nas redes sociais, Carlos Jordy disse ter sido acordado por agentes da PF às 6h. Ele confirmou que teve arma e celular apreendidos.
“É inacreditável o que nós estamos vivendo. Esse mandado de busca e apreensão que foi determinado pelo ministro Alexandre de Moraes é a verdadeira constatação de que nós estamos vivendo uma ditadura”, disse o bolsonarista, que negou ter incitado ou apoiado os atos golpistas do 8 de Janeiro.
“É óbvio que tem viés totalitário, intimidatório e não tem respaldo legal.”
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