Política

PF vê indícios de ‘rachadinha’ em gabinete e pede quebra do sigilo de Janones

Em um relatório ao STF, os investigadores afirmaram haver inconsistências nos depoimentos prestados por servidores do deputado

O deputado federal André Janones. Foto: Renato Araújo/Câmara dos Deputados
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A Polícia Federal informou ao Supremo Tribunal Federal ter colhido indícios que apontariam para a existência de um esquema de “rachadinha” no gabinete do deputado federal André Janones (Avante-MG) e solicitou a quebra dos sigilos fiscal e bancário do parlamentar e de seis assessores.

“Rachadinha” é o nome dado na política à prática de conceder cargos comissionados (de confiança) em troca de parte dos vencimentos dos funcionários. Trata-se, em tese, de desvio de dinheiro público.

As conclusões da PF constam de um relatório enviado nesta terça-feira 30 ao gabinete do ministro Luiz Fux, relator de um inquérito sobre o tema no STF. Janones é investigado por supostos crimes de associação criminosa, peculato e corrupção passiva.

Procurado por CartaCapital, o deputado disse ter visto “com estranheza” o pedido de quebra de sigilo feito pela PF e afirmou estar “confiante” de que será absolvido ao final do inquérito.

“Me causa estranheza a PF pedir a quebra de meu sigilo fiscal e bancário, sendo que eu já os coloquei a disposição desde o início das investigações, e até hoje não fui sequer ouvido”, destacou.

No documento enviado à Corte, os investigadores afirmaram haver inconsistências e contradições em depoimentos prestados por servidores do deputado.

Entre as inconsistências, a PF destacou a oitiva de Alisson Alves, um dos servidores que aparecem nas gravações indicando o suposto esquema no gabinete.

À polícia, Alves afirmou nunca ter devolvido parte do salário e alegou que, à época das gravações, mentiu para que um colega não pedisse dinheiro emprestado. No mesmo depoimento, porém, ele disse que sacava todo mês 4 mil reais em espécie.

Essa versão acendeu o alerta entre os investigadores, para os quais o montante seria “justamente valor próximo do que o inquérito aponta que ele devolvia para o deputado federal André Janones”.

Um relatório do Coaf também identificou depósitos fracionados na conta do parlamentar. Entre dezembro de 2022 e novembro de 2023, ele recebeu uma transferência via Pix de sua ex-secretária parlamentar Leandra Guedes Ferreira no valor de 7,5 mil reais.

Ao solicitar a quebra dos sigilos, a PF argumentou ser necessário “conhecer o fluxo financeiro dos envolvidos”, uma vez que esquemas de “rachadinha” envolvem a realização de saques e depósitos em espécie.

“Por ser a única maneira efetiva de rastrear o dinheiro, não se trata apenas de uma técnica investigativa apropriada, mas de uma etapa essencial para o esclarecimento do caso”, escreveu o delegado federal Roberto Santos Costa.

A investigação contra Janones foi aberta em dezembro a pedido da Procuradoria-Geral da República e se baseia em um áudio em que o deputado mineiro supostamente pediria a assessores o repasse de parte de seus salários.

Desde que o material veio à tona, Janones afirmou que abriria mão dos próprios sigilos fiscal e bancário. No entanto, a PF declarou que “simplesmente encaminhamento de extratos bancários pelos investigados não é suficiente”.

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