Política
Prisão que recebeu Stuart Angel virou “Clube do Mickey”
Área de lazer na Base Aérea do Galeão é conhecida desde 1982 com o nome que remete ao personagem Disney. Base foi alvo de diligência da Comissão da Verdade
Reconhecido pelo ex-cabo da Aeronáutica José Bezerra da Silva como o local onde os militantes e militares contrários à ditadura eram detidos e torturados na Base Aérea do Galeão, na Ilha do Governador, no Rio, o chamado presídio subterrâneo onde ficou preso Stuart Angel foi transformado em centro de lazer.
O local, de acordo com Bezerra, foi cimentado e batizado em 1982 como Clube do Mickey. “Eles mascararam o terreno, puseram o gramado e fizeram o Clube do Mickey, uma área de lazer para os filhos de oficiais. Mas criança alguma vai lá, não tem recreação, é algo para inglês ver”, afirmou Bezerra sobre o que era antes chamado de prisão do Cisa (Centro de Informações da Aeronáutica).
A informação veio à tona durante diligência feita nesta sexta-feira pela Comissão da Verdade no local.
Militante do MR-8, o filho da estilista Zuzu Angel foi preso em junho de 1971. Apesar de relatos de que tenha passado pela Base Aérea do Galeão e pelo Hospital Central do Exército, seu corpo não foi encontrado até hoje.
Segundo Bezerra, Stuart saiu do presídio subterrâneo, foi levado até a sala do dentista “Dr. Luiz” por causa de um inchaço, um roxo que tinha no rosto. “O Luiz deve ter dado algo para ele continuar aguentando o interrogatório. Ele morreu naquela mesma noite”, lembrou.
Para o ex-militar, que foi considerado subversivo depois de chamar de “covardia” a sessão de tortura à qual Angel era submetido pelas mãos de três militares, transformar o presídio de 13 celas que foi palco de tortura no Clube do Mickey é uma “zombaria”. “Isso é uma fantasia, uma fachada, algo de muito mau caráter das Forças Armadas brasileiras”, protestou. “Em vez de fazerem um trabalho relevante para o Brasil, as Forças Armadas escondem documentos e protegem torturadores.”
Expulso das Forças Armadas, Bezerra hoje trabalha como advogado em defesa de ex-militares que, como ele, foram perseguidos e presos. Sua maior batalha é para que esses sejam considerados anistiados políticos.
Um minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.
Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.
Assine a edição semanal da revista;
Ou contribua, com o quanto puder.