Política

Quais as chances de Marina Silva nestas eleições?

Marina desponta com força em cenários sem Lula, mas pode perder fôlego quando a propaganda na TV começar, avaliam especialistas

Depois de Lula, Marina é a candidata mais conhecida do eleitorado, segundo DataFolha
Apoie Siga-nos no

O cenário indefinido das eleições deste ano, protagonizado especialmente pela candidatura do ex-presidente Lula – preso em Curitiba e com poucas chances de permanecer na campanha até o fim – contribui, em certa medida, para que Marina Silva, candidata à presidência pela Rede, alcance neste momento de vacância, um eleitorado relevante. 

As primeiras pesquisas eleitorais feitas após o início oficial da campanha mostram que a candidata, embora não tenha conquistado até aqui números capazes de leva-la para o segundo turno da disputa, é competitiva, e em diversos cenários sondados, pode tanto acessar, quanto perder um eleitorado que ainda será muito disputado pelos candidatos até 7 de outubro.

Leia mais:
Datafolha: 43% das mulheres não votariam ‘de jeito nenhum’ em Bolsonaro
Como conversar e entender os eleitores de Bolsonaro?

A começar pela transferência de votos de Lula para os outros candidatos. O instituto MDA, que divulgou na segunda-feira 20 sua pesquisa encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), questionou os eleitores em quem votarão caso Lula não possa participar do pleito. 

Marina Silva foi a segunda mais lembrada, atrás do vice do ex-presidente, Fernando Haddad. Neste momento, a candidata da Rede teria quase 12% dos votos originalmente destinados a Lula. Ciro vem em terceiro, com 9,6%. 

Em sua terceira campanha presidencial, o nome de Marina é o mais conhecido do eleitorado após Lula. Segundo o DataFolha, 93% dos eleitores a conhecem, divididos entre os que a conhecem muito bem (27%), um pouco (33%) ou só de ouvir falar (33%). 

Para a cientista política Vera Chaia, uma boa parte do eleitorado ainda espera definições sobre as campanhas, principalmente da Justiça e do próprio PT, e Marina, por já ser conhecida, melhora sua pontuação nas pesquisas.

“O cenário mais factível é que o Haddad assuma a campanha do Partido dos Trabalhadores, e ele terá boa transferência dos votos do Lula, mas não terá todos os votos, e Marina, por ser conhecida e por atingir as camadas mais populares, também se beneficia.”

Na pesquisa feita pelo Ibope, Marina também aparece como um nome significativo na ausência de Lula. É a mais citada pelos mais jovens e entre os mais pobres. Ela tem 19% das intenções de votos de quem ganha até dois salários mínimos (R$ 1.908,00); Jair Bolsonaro (PSL) vem em seguida, com 14%. 

É verdade que mulher não vota necessariamente em outra mulher, assim como um candidata evangélica pode não representar prontamente as aspirações políticas e sociais de outros evangélicos. Ainda assim, os candidatos buscam esse tipo associação com a expectativa de angariar mais votos. 

Nestas eleições, Marina disputa o discurso evangélico com Jair Bolsonaro e Cabo Daciolo. O Instituto DataFolha recortou eleitorado por religiões, e são os evangélicos os que declararam em maior número que ainda não sabem em quem votar, e que pretendem votar em branco ou anular. 7% estão indecisos sobre seu candidato; brancos e nulos somam 23% dos fiéis. 

Para o também cientista político Humberto Dantes, o terceiro lugar de Marina nas pesquisas não indica, automaticamente, que ela seja uma terceira via para o eleitorado.

“Isso não é crescimento (dados da pesquisa). É identificação do eleitorado. Eu acho que a Marina não tem potencial de crescimento nas eleições, para mim ela tem potencial de encolhimento, porque ela vai desaparecer no horário eleitoral. Ela está em um partido pequeno. Não é a Marina com o apoio financeiro de 2014”, avalia Dantas.

Eleitorado feminino

Sem Lula e sem a associação direta de Lula com Haddad, é ela quem mais recebe apoio do eleitorado feminino. Segundo o Datafolha, 19% declararam voto na candidata se o ex-presidente não participar das eleições. 

Outras 23%, no entanto, não votariam “de jeito nenhum” – taxa de rejeição semelhante à dos candidatos Geraldo Alckmin, do PSDB, e Ciro Gomes, do PDT. Este ano, Marina é a única candidata mulher ao Palácio do Planalto. 

No último debate, da Rede TV!, Jair Bolsonaro levou uma sova de Marina Silva. A candidata da REDE relembrou o fato do candidato achar desnecessário pensar em políticas de igualdade salarial entre homens e mulheres. “Só uma pessoa que não sabe o que é ganhar um salário menor do que um homem tendo as mesmas capacidades, as mesmas competências, e ser demitida é quem sabe”, disse Marina Silva. E concluiu: “Um presidente da República está lá para combater injustiça.

E as mulheres são o voto em potencial. De modo geral, elas avaliam com mais calma o perfil dos candidatos, e portanto levam mais tempo para definir o voto. Isso se expressa nos votos brancos, nulos e indecisos. 5% das mulheres ainda não sabem em quem votar, e 13% estão inclinadas a não votar em ninguém. 

“O desempenho dela nas últimas semanas não foi ruim. Alckmin e Bolsonaro andam perdendo espaço, ela não. Mas não acredito que isso vá se manter depois da campanha em TV, porque na mídia social ela também não tem forte presença”, conclui a cientista política Vera Chaia.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo